quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Maria Rita toca hoje no Allgarve

05/08/09 - Expresso

Antes do concerto de hoje à noite, a filha de Elis Regina fala de samba, do twitter e da pirataria na Internet. Em conversa com o Expresso, Maria Rita confessa: "Nem no duche posso desafinar!" (Oiça um excerto áudio no fim do texto)

Maria Rita Camargo sabe que ser cantora foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida. Mas apesar da música correr-lhe nas veias, resistiu com todas as suas forças até aos 24 anos.

Formou-se em Comunicação Social e Estudos Latino-Americanos nos EUA, mas descobriu que não podia viver sem cantar. Filha do pianista César Camargo e da cantora Elis Regina, trilhou o seu próprio caminho no mundo do espectáculo.

Agora, com 32 anos e já com discos lançados em mais de 30 países, tem no currículo o Grammy latino em três categorias: revelação do ano, melhor disco de Música Popular Brasileira e melhor Canção Brasileira, entre outros galardões.

Para o Algarve, Maria Rita traz na bagagem um espectáculo que mistura samba e arranjos de jazz, pela Orquestra de Jazz de Matosinhos: "Tem um pouco de tudo, músicas do primeiro álbum, do segundo, canções que não estão em disco nenhum e até uma música que nunca cantei ao vivo, do Jorge Drexler, chamada 'Soledad'. É um concerto muito bonito e muitas vezes até me emociono", admite.

Parte do espectáculo é uma visita ao samba, registo que Maria Rita encontrou em "Samba Meu", o seu último álbum.

"O samba é uma expressão forte e poderosa para o brasileiro, tem a alegria infundada de um povo que sofre muito para fazer as coisas acontecerem, que paga impostos muito altos e não tem retorno, com a autoestima muito baixa e que encontra no samba e no futebol uma válvula de escape", explica.

O futebol é, aliás, uma das pontes que melhor liga Portugal ao Brasil, segundo a cantora, ela que ainda tem raízes longínquas no nosso país (Elis Regina era descendente de portugueses).

Se agora se fala muito de Cristiano Ronaldo, antes era o "Felipão", quando Luiz Felipe Scolari treinava a selecção portuguesa. Já na música, as coisas são bem diferentes, o Brasil tem bilhete de ida, mas a música lusa dificilmente chega ao outro lado do Atlântico.

"Quando se fala em música portuguesa é o fado, tem-se a ideia que o português é muito dramático. Falta uma iniciativa de aproximação, já que dividimos a mesma língua. Devia haver uma reciprocidade e seria importante até para o brasileiro entender as suas raízes, porque temos muito do que Portugal levou para o Brasil", admite.

Não que Maria Rita seja 'só' brasileira. Viveu oito anos em Nova Iorque, teve até aulas de dicção para 'tirar' o sotaque anglófono e hoje considera-se mais uma 'cidadã do mundo' de tanto que já viajou à conta da sua carreira.

Pelo caminho leva um sentimento de "enganação do público", e confessa: "Sinto que às vezes estou a enganar as pessoas porque canto com tanto prazer e as pessoas pagarem para me ver cantar... sinto que é enganação".

Diz-se exigente, muito exigente com o seu trabalho, mais "uterino" em palco, mais cirúrgico e íntimo em estúdio. Desafinar, nem pensar, mesmo que seja no duche!

Fã incondicional das novas tecnologias, diz que a Internet aproximou a música dos fãs e vai mais longe: "Tenho tido discussões com as editoras, porque acho que deve baixar o custo dos discos e voto a favor de uma reestruturação das companhias diante desse novo mercado. Isso tem que ser resolvido, ontem!", critica.

Com perto de 28 mil seguidores só no Twitter , cita Gilberto Gil: "Quanto mais gente ouvir a minha música, melhor".

Se o leitor estiver no Algarve, hoje não será difícil. Maria Rita toca com a Orquestra de Jazz de Matosinhos no Hotel Grande Real Santa Eulália, em Albufeira, às 22h30, num concerto inserido no programa Allgarve. Os bilhetes custam 30 euros.

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Confira abaixo o trecho da entrevista que eles disponibilizaram (diferente do anterior!):

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