quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Arquivo MR - Entrevista Playboy

Revista Playboy - Junho 2003
Edição Nº 335

O Jornalista Marcel Plasse, que conheceu Elis Regina, se arrepiou com a semelhança. Os traços, os tom, os trejeitos de Maria Rita Mariano são puro Elis. De início a entrevistada até tentou se manter reservada, mas não se agüentou: logo ela abriu o enorme sorriso para o repórter e entregou os deliciosos segredos que estão nas nossas 20 Perguntas.
Boa leitura!

A cantora revelação, filha de Elis Regina, garante que não quer ocupar o lugar da mãe e fala do cerco dos irmãos, de tesão em show, tatuagens e transas na faculdade.

Pequenina como a mãe, dona de uma risada marcante e gestual forte, ela não precisa mais que balançar os cabelos ondulados para evocar a lembrança de Elis Regina. SE a semelhança impressiona numa entrevista, quando abre a garganta para cantar é um nocaute. Maria Rita Mariano herdou bem mais que a aparência materna. Essa verdade acendeu uma disputa entre gravadoras como há muito não se via. Ganhou a Warner, que em agosto lança o seu cd.

Apesar da indiscutível herança genética, só agora, aos 25 anos, Maria Rita tomou gosto pela coisa. "Mas não vai haver uma nova Elis, porque o posto nunca esteve vago...", disse a Marcel Plasse, que a entrevistou.

Até a pouco, seus planos envolviam duas faculdades nos Estados Unidos, para onde se mudou aos 16 anos com o pai - o músico César Camargo Mariano - e os irmãos. independente, morou no dormitório estudantil na Universidade de Nova York (NYU). Ali, despertaram a saudade, o prazer de ouvir MPB e o sexo. diz a lenda que, um dia, Maria Rita teve um estalo. Ainda na cama, gritou palavrões. Tinha decidido virar cantora. Seu namorado americano ficou sem entender nada.

De volta ao Brasil, no ano passado, fez participações especiais em shows e gravou com Milton Nascimento. A repercussão a assustou: capa de jornais, o prêmio de artista revelação da Associação Paulista dos Critícos de Arte, os telefonemas de gente como Ed Motta convidando-a para gravar... Maria Rita tem uma estrela tatuada no corpo. "É minha mãe", brinca. Seu destino está mesmo entre os astros.

PLAYBOY: Vi, quando você chegou, que você tem uma tatuagem acima do bumbum. Gosta de tatoo?
MARIA RITA: Tenho duas e plano para a terceira. É meu único vício. Tenho uma estrela azul no ombro direito, nas costa, e, bem embaixo, o símbolo chinês da força. Foi numa epóca em que estava me descobrindo mulher, no primeiro ano da faculdade, em 1992.

PLAYBOY: A família, é claro, adorou...
MARIA RITA: Não muito. eu já era de maior... Meu irmão João Marcelo teve a reação mais extrema: "Tatuagem! Sabe que isso não sai?" foi a mesma coisa quando fiz o segundo furo na orelha. Cheguei em casa e meu pai olhou atravessado. Tinha 14, 15 anos. Mas em casa sempre foi assim: "Quer fazer, faz".

PLAYBOY: Como foi viver cercada por irmãos? Pegavam no pé?
MARIA RITA: Agora tenho uma irmã caçula, de 19 anos, mas durante muito vivi num lar dominado por mocinhos bagunceiros. Eu não namorava muito. Era muito tímida, bem introspectiva, gordinha. Mesmo assim, havia muito protecionismo. O Pedro era o mais enciumado com os meus namoricos, mas, ao mesmo tempo, foi quem me levou para comprar a primeira camisinha. Ele disse que eu estava virando mocinha e que precisava saber me defender. Aí me ensinou a bater: joelho primeiro,nas partes, e atacar com a mão fechada. Na pior das hipóteses, era para segurar firme "aquilo" [ri].

PLAYBOY: E na faculdade?
MARIA RITA: Aí eu já era "adulta", e eles fingiam que não sabiam de nada. uma vez, o Pedro me ligou: "Vê se não vai namorar um cara muito grande, por que, se ele fizer alguma coisa, não vou poder bater nele". É que eu estava de namorico com um jogador de futebol americano. O cara era grande! [Risos.]

PLAYBOY: O dormitório da NYU é só festa, como mostra a série Felicity?
MARIA RITA: Mais ou menos. A gente estudava muito. Fiz duas faculdades simultaneamente: Comunicação Social e Estudos Latino-Americanos. Então, estudava no verão, tinha uma carga semanal enorme. Mas tinha as minhas aventuras, né? Gosto de beijar, mas não sou namoradeira. One night stand não rola comigo. Já tentei, achei uó. Com intimidade é melhor. Aí, fico "facinha", "facinha"...

PLAYBOY: E sua relação com o corpo?
MARIA RITA: Acho os meus seios muito grandes, dão problema na coluna. Mas, quando era adolescente e tinha peitão, bundão e cintura fina, achava que tudo em mim era um horror. Hoje, considero isso parte da minha sensualidade. quando quero, brinco de mulher sexy.

PLAYBOY: Como lida com as cantadas?
MARIA RITA: Eu não dou muito molé. Tem que saber aplicar. Outro dia, estava dançando e vi um moço bonitinho. Ele também estava de olho. "Ô, que milagre! Uhu!" Parou do meu lado, fez uma voz de galã: "Você vem sempre aqui"? Eu comecei a rir. Original, né? Aì acabou a graça.

PLAYBOY: Qual é a cantada perfeita?
MARIA RITA: Não existe. Quem tenta ser muito esperto faz tudo errado. Recebi uma sutil, que só entendi depois. Azar dele. O cara diz para mim : "Que perfume bom. Qual é?" Falei: "O cheiro é meu, não dou para ninguém". E se foi. Quando ele sumiu, pensei: tava me cantando, não percebi... "Ô, volta aqui!"

PLAYBOY: Você tem jeito de quem deve cortar muito...
MARIA RITA: Ah, eu me divirto muito. Me faço de difícil. Adoro ver a cara do cidadão bem branca. Deve ser por isso que continuo solteira. Estou disponível, só não sei se tenho tempo...

PLAYBOY: Consome tanto tempo assim ser cantora?
MARIA RITA: Tem shows, entrevistas, fazer as unhas, cortar os cabelo, ir ao médico. Eu reservo tempo para ouvir música, conversar com músicos. Saio à noite para ver shows. E tem as coisas da minha mãe, que eu e meus irmãos cuidamos. Uso de imagem, liberação para trilha de comercial, peça, cinema etc. A gente fica em cima de tudo.

PLAYBOY: Você era pequena quando Elis morreu. O que lembra dela?
MARIA RITA: Tinha 4 anos, mas lembro dela com carinho. Muita coisa, a família conta. Ela cozinhava e lavava a louça em casa, não era um mito intocável. Sua diversão favorita era receber os amigos e cozinhar. Era uma excelente cozinheira - eu sou péssima. Lembro de uma história engraçada, em que um amigo foi elogiar o peixe que ela preparou, dizendo que era o melhor que tinha comido na vida. Ela respondeu: "É porque você ainda não me viu cantando!" [Risos.]

PLAYBOY: Elis morreu num incidente envolvendo cocaína. Como é sua relação com as drogas?
MARIA RITA: Drogas, simplesmente, não suporto. por tudo o que aconteceu, droga é igual à morte. Demorei para aceitar que algumas pessoas que conhecia podiam usar drogas, mas é algo que detesto. Outra coisa: a história da morte da minha mãe nunca ficou bem esclarecida. Há quem diga que ela morreu de careta que era, porque uma pessoa acostumada com drogas jamais usaria cocaína do jeito que ela usou.



PLAYBOY: Houve algum incidente marcante, de alguém que a abordou por ser filha da Elis?
MARIA RITA: Foi num evento estudantil em Nova York. De repente, desaba um menino correndo: " Você é filha da Elis?!", disse em inglês. Fazia uns 18 anos que a minha mãe tinha morrido, e o moleque tinha 18. Ele se ajoelhou no chão, pegou a minha mão, tremendo e chorando: "Sua mãe mudou minha vida!" Fedelho, como assim?[Ri.]Ele teve uma babá brasileira e sempre ouviu a minha mãe. A música dela o levou à faculdade de música. Veja o poder da mulher. Por isso, não me acho sucessora de Elis.

PLAYBOY: Você ouve os discos dela?
MARIA RITA: Sempre. Só não escuto como um fã, mas como a filha. Quando os ouço, são momentos pessoais. È a única coisa que tenho, a presença dela por meio de discos.

PLAYBOY: Há varios filhos de artistas da MPB se lançando como cantor. Como isso afeta você?
MARIA RITA: É pavoroso. Só eu sei o que passei para assumir a música, até chegar ao ponto de não mais temer as cobranças. quando decidi voltar ao Brasil, vi esse cenário, em que todo mundo é "filho de". A situação independe do mérito, porque tem "filho de" muito bom e tem "filho de" que é uma merda. Evitei ficar no meiro dos "filhos de". Fui procurar a minha turma.

PLAYBOY: Mas sempre vão lembrar de quem você é filha?
MARIA RITA: O problema não é se lembrarem da minha mãe, mas o contexto dos "filhos de". No momento em que alguém disser "você é oportunista", estou acabada. Não decidi virar cantora porque era mais fácil. Ao contrário. Por mais tarde que eu tenha assumido a música, ela nunca deixou de ser importatnte para mim.

PLAYBOY: Cantar é um orgasmo?
MARIA RITA: Nada supera um orgasmo. Mas é uma experiência fora do comum. Tem tanta gente envolvida - os músicos, você e o público batendo palmas -, que vira muita adrelina. Eu fiz uma participação num show em Belo Horizonte em que finquei os pés no chão e achei que fosse desabar. Minhas pernas começaram a pingar suor. É a energia, é foda!

PLAYBOY: Há um estereótipo forte na MPB, de que as cantoras de sucesso são sapatões. Pronta para lidar com o estigma?
MARIA RITA: A sociedade está mais aberta à "esquisitice". Eu sou amiga de mandar e-mails para a Zélia [Duncan] - ela me liga : "Vem no show". Não sou preconceituosa. Mas não é a minha praia. Nunca experimentei, nem tenho curiosidade.

PLAYBOY: Qual sua transa mais louca?
MARIA RITA: Foi num albergue estudantil na Espanha. Tinha ido viajar com o namorado. A gente bebeu umas cervejas a mais e deu aquela vontade. Mas dividíamos o quarto com mais gente. Então, fomos para a sacada. Tapamos os vidros da janela com lençol, torcendo para o moleque que estava no quarto não acordar. Mas era final do Campeonato Europeu de Clubes - quando o Manchester United venceu o Bayern -, e as rampas estavam lotadas. Rolou na sacada, em meio às gritarias dos torcedores e fogos.

PLAYBOY: O que os irmãos super-protetores vão achar de saber disso?
MARIA RITA: Tô ferrada. Vou mandar um e-mail para eles explicando. É o seguinte, aconteceu um negócio... O machismo ali vai pegar ferrado.

Créditos: Baú da Maria Rita

4 comentários:

  1. Adorei a reportagem,eraa super fã de Elis e agora sou de Maria Rita.

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  2. muito massa. eu ja era fã dela agora sou super fã.

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  3. o lance do perfume, como esse imbecil foi dar um mole desses (risos de inconformado)! porra só queria uma chance.

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