Ricardo Schott, Jornal do Brasil
RIO - Quem costuma assistir à cerimônia do Grammy Latino e, em meio a seus artistas brasileiros favoritos, se depara com várias apresentações de músicos latinos – muitos deles desconhecidos no Brasil – vai encontrar um cenário totalmente renovado este ano.
Pela primeira vez desde que o prêmio começou a ser concedido, há nove anos – o Grammy geral já existe há cinco décadas – a premiação das categorias brasileiras da competição vai acontecer no país, no dia 13, a partir das 22h.
A Band, que bancou a idéia (investindo US$ 1 milhão), transmite a festa diretamente do Ginásio do Ibirapuera, com apresentação de Marcelo Tas e Daniela Cicarelli e curadoria de Nelson Motta.
O leque de artistas indicados inclui de Maria Bethânia, Djavan e Roberta Sá a bandas de rock como Charlie Brown Jr. e CPM 22 – e estão previstos encontros musicais entre as atrações.
Até então, artistas brasileiros indicados, como Maria Rita e o grupo Skank (ambos em 2004), tinham de ir aos Estados Unidos participar da cerimônia, já que, por uma norma da Academia Latina de Ciências da Gravação, todo e qualquer evento do festival só poderia acontecer nos Estados Unidos.
Em 2008, a premiação latina vai ser realizada no Toyota Center em Houston, no Texas. A transmissão da Band inclui flashes da premiação latina, privilegiando os artistas com carreira consolidada no Brasil. Entre os indicados para o Grammy Latino que são aguardados em Houston estão os cantores italianos Andrea Bocelli e Laura Pausini e a banda mexicana Cafe Tacuba.
Artistas brasileiros como Djavan. Roberta Sá e Gilberto Gil concorrem também em categorias internacionais. Diretor-geral do evento, Rogério Gallo observa que tal mudança é sinal de que a música brasileira está sendo vista com outros olhos pela exigente academia do Grammy – o que justifica a permissão para que o evento seja realizado aqui.
– Quando o país assistia à premiação, encontrava uma série de artistas hispânicos que não chegam ao nosso mercado. Isso afastava muita gente – opina Gallo, que, ao conversar com a academia, confirmou o interesse por uma aproximação com o Brasil.
– Todos acreditavam que a música brasileira merecia outro tipo de investimento. Mesmo outros grandes mercados de música, como o Japão e o México, tentaram durante anos fazer esse tipo de evento, mas jamais conseguiram. O evento vai ter continuidade e vai fazer parte do calendário da Band, a partir de 2008.
A cerimônia exclusiva não indica, no entanto, a separação entre brasileiros e artistas hispânicos. Na festa dos Estados Unidos, a cantora cubana Gloria Estefan será homenageada, como personalidade do ano – e fará uma apresentação especial com o brasileiro Alexandre Pires, bastante conhecido nos demais países da América Latina.
No Brasil, o uruguaio Jorge Drexler foi convidado para cantar com algum grande artista brasileiro, ainda não escolhido.
– O Grammy Latino vai realizar outras atividades no Brasil e essa junção entre músicas de diferentes países sempre vai existir – frisa o representante do Grammy Latino no Brasil, Cesar Castanho, que não previa a realização da cerimônia longe dos EUA em tão pouco tempo.
– Achei que fôssemos fazer alguns eventos do Grammy ao longo do ano, e apenas isso. Agora, estamos comprometidos a dar a medida da importância da música brasileira na festa. Planejamos fazer isso em outros países, mas, com o prazo que tivemos, pudemos fazer apenas aqui.
Tanto a Band quanto a equipe do Grammy cuidam para que a premiação ganhe a cara do país. Nelson Motta avisa que vai seguir à risca o conceito da diversificação característico do evento.
– A idéia é privilegiar a qualidade e a novidade. Vamos ter apresentações latinas, nas quais o Jorge Drexler deve entrar, mais números de samba, MPB e rock clássico, além de um um show surpresa – adianta Motta, que espera que o Grammy se solidifique por aqui.
– É o primeiro passo para um Grammy brasileiro de verdade. O Brasil merece isso, ele tem uma música importantíssima no mundo todo e precisa de um tipo de premiação que possa abranger a nossa diversidade, sem misturar categorias.
Outro grande ponto de união entre Brasil e países latinos é o Prêmio Especial de Excelência Musical para Astrud Gilberto – ex-mulher de João Gilberto e uma das responsáveis por divulgar a bossa nova no mundo – que será entregue em Houston.
Os organizadores do evento brasileiro não sabem se ela emendará a premiação com uma visita ao Brasil.
– Ela é importantíssima na história do Grammy – recorda Motta.
– Em 1965, ela e João Gilberto ganharam Grammys de Gravação do Ano e Disco do Ano, por causa da versão em inglês de Garota de Ipanema e do disco Getz/Gilberto, que tinha essa música. Bem antes do Grammy Latino, o Brasil já tinha desbancado Beatles, Rolling Stones e até Frank Sinatra nas paradas de sucesso.
Disputando o prêmio de melhor cantor-compositor com artistas como Fito Paez, Pablo Milanez e Gilberto Gil, Djavan ainda nem sabia da mudança na premiação. O cantor não pode ir a Houston por ter compromissos, mas tem a opção de ir a São Paulo assistir à disputa pelo prêmio de Melhor Canção Brasileira – ao qual concorre com Delírio dos mortais.
– Acho que o prêmio é importante lá fora e realmente precisa de mais divulgação por aqui – elogia Djavan.
Roberta Sá, outra que pode escolher entre ficar no Brasil ou ir aos Estados Unidos, concorre a Melhor Álbum de Música Popular Brasileira (no Brasil) e artista revelação no latino.
– Acho que os artistas brasileiros ficavam meio deslocados na premiação por não falarmos espanhol. Agora, isso vai mudar – torce a cantora.
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