terça-feira, 28 de outubro de 2008

Diário de Turnê

"Rio-Salvador, 24 de outubro de 2008.

Antes tarde do que nunca...

PRECISO comentar os shows da semana passada... O primeiro, o show em homenagem aos 100 Anos do Cartola, o outro, um show para um evento fechado com o Paulinho da Viola! Antes de mais nada, importante dizer da emoção que eu senti em ambos eventos, por motivos diferentes, sim, porém emoção é sempre emoção!

Primeiro porque a Alcione me convidou pessoalmente para cantar no show em homenagem ao Cartola, no camarim do VIVO Rio, show de lançamento do DVD. Foi no show que ela ficou sentada bem na minha frente. Cantei o show inteiro como se nada fosse, porém, ao cantar "Não Deixe o Samba Morrer", me tocou a presença dela, principalmente pelo fato daquela galera toda (vocês) terem cantado escandalosa e lindamente esse samba, clássico na sua voz, na sua presença. Fiquei orgulhosa da minha escolha, dos meus fãs, e me deu um "flashback às avessas", pois fiquei imaginando se um dia eu terei uma grande canção em meu repertório, uma que pessoas cantem em quaisquer cantos do País, mesmo depois de 20-e-tantos anos.

Me emocionou a emoção dela (para o chatos de plantão, sim, eu sou chorona, mas não ousem decifrar minhas razões: eu simplesmente assim sou!). Me coloquei no lugar dela, e vi, no brilho em seu olhar, o seu próprio orgulho. É incrível quando se vê gerações diferentes cantando a mesma canção. Eu vejo isso com o trabalho de minha mãe, e, como filha, tenho um orgulho danado. Foi inesquecível. Fiquei, também, nervosa, senti a responsabilidade de cantar tal clássico para a sua dona! Um pouco das lágrimas foi de alívio também. Mas a emoção maior foi de vê-la emocionada. Vocês deram um presente para a grande Alcione!

Passado essa parte, da honra de receber um convite pessoal dessa Rainha, pessoa generosa que Alcione é, e também da neta de Cartola, veio a responsabilidade da realização que Alcione me chamou porque acreditou que eu agregaria ao projeto de um cara que, teoricamente, não precisaria de nada disso. Eu acredito muito que Cartola é parte do nosso inconsciente coletivo, aquela coisa da gente saber do cara sem nem perceber; conhecer sua obra sem nunca ter comprado um disco. O cara é nosso mesmo. Só nosso, e isso é uma bênção. De todas as feras que lá estavam naquele palco do Canecão, naquele show, muitas conviveram com o cara. Já eu, sempre fiquei nesse inconsciente, até que há alguns anos fui buscar aprender mais a respeito de sua história e obra. Mas mesmo assim, mesmo sendo a artista mais jovem e, de certa forma, mais distante do mundo de Cartola, confiaram que eu agregaria ao evento.

E eu achei isso incrível, porque tinha fã meu lá, na primeira fila. E essas pessoas presenciaram a obra de Cartola de uma maneira que talvez ainda não tivessem, assim como presenciaram as apresentações de artistas incríveis, como Emilio Santiago e Lecy Brandão. Outro dia uma fã minha me disse que foi ao show em homenagem aos cinqüenta anos da Bossa Nova, do qual participei, e ela se disse tomada de emoção por uma cantora que ela nunca tinha ouvido falar, a Leny Andrade. Ou seja, ela foi ao show para me ver cantar e ganhou o presente de "descobrir" Leny Andrade! É disso que falo quando me refiro à Música como uma força agregadora. Eu acho isso muito mais forte do que qualquer outra força que venha com a música. Porque é gratuito. (Tomara que tenha nego que foi assistir a Leny Andrade e me curtiu também, fala sério!)

Das duas canções que me disponibilizaram, escolhi cantar "Basta de Clamares Inocência". Era uma canção que conhecia bem, não tinha quase nenhum dúvida da letra e melodia, meu estudo foi pouco para a apresentação. Fiquei um pouco na dúvida por ter sido gravada pela minha mãe, mas depois de conversar com meu irmão, percebi que seria mais honesto eu cantar uma canção que já conhecia bem (ainda mais que não havia ensaio), e que, pelo Cartola, valeria a pena o risco da exposição, o risco das críticas e comparações.

E foi certeira minha decisão: sem ensaio, o maestro se viu obrigado a adivinhar meu tom. Ficou um pouco baixo para mim, mas da mesma maneira que ele foi super profissional em me dar tempo extra para passar e aprender a parte melódica que estávamos todos em dúvida (foi Alcione quem nos socorreu!), eu fui profissional em não fazê-lo trocar o tom a poucas horas do show. E acabou que foi ótimo: foi um desafio para mim, distanciou da versão da minha mãe, deu uma outra intensão e intensidade. Saímos felizes todos!

Lá cruzei com um monte de gente que fazia um tempo que não cruzava, como a Lecy Brandão e o Miele e a Beth Carvalho e o Seu Rildo Hora; vi e beijei a mão de Seu Nelson Sargento pela primeira vez; dividi o camarim com Sandra de Sá (figura, figura, figura!), Lecy e Alcione... Ou seja, parecia uma festa. Parecia não! Foi uma grande festa, apesar de pequena para o tamanho de Cartola. Espero que ele tenha curtido de lá de onde ele está!

Daí, na mesma semana, houve ensaio com Paulinho da Viola e sua banda mais do que incrível, na quinta-feira, e o show, na sexta-feira. Afe Maria. Dessa experiência até que tenho pouco a dizer porque foi TIPO INCRIVEL. Não teria pensamentos profundos e eloquentes a dividir com vocês. Não teria como definir ou exprimir a emoção que senti, o prazer de vê-lo sorrindo no palco, de ouvi-lo tocando enquanto eu cantava as canções, de dividir uma estrofe com ele. Me senti uma criança. Só olhei para o público porque me ensinaram que a gente tem que sempre manter o respeito ao nosso público, independente do que esteja se passando. Porque a vontade que eu tinha era só de ficar absorvendo aquilo tudo que estava acontecendo no palco.


Ter uma experiência tão próxima de um ídolo é sem dúvia algo fora do comum. E, o engraçado, eu não chorei desta vez (ha ha ha). Acho que foi mais ou menos como cantar com o Paralamas: é tanta admiração, tantos anos de ouvir e aprender, e tantas memórias pessoais ao som desses caras, que, quando subi ao palco com eles, era como se estivesse num tanque de areia aos quatro anos de idade depois de dias trancada em casa por causa de chuva!

Me senti lá em cima. Nem sei como foi que surgiu o convite, se foi Paulinho quem me chamou ou se foi o evento que sugeriu. Se foi o último, minha honra está no fato dele ter aceito! E se foi o primeiro, bom, daí melhor nem pensar. Ele contando histórias (ele é um grande contador de histórias!)... A sua elegância e charme por conta de sua infinita simplicidade... Rapppppppaz, nem sei o que dizer. Acho que nem quero dividir muito, não. Sinto que foi experiência para dividir só com filho, sabe? Tipo herança mesmo! Uma jóia que eu vou levar na lembrança, guardada no coração. Desculpa o egoísmo...

Bom, era isso... Estou no avião, indo para Salvador. Show na Concha Acústica. Vai ser incrível que eu sei! O povo soteropolitano é especial e eu adoro fazer show lá! Na Concha, então, nem se fala. Posso dizer seguramente, e sem medo de magoar ninguém, que é um dos meus lugares favoritos, a Concha. A alegria, o calor, a galera, aquele paredão de gente-Papai do Céu, tenho que agradecer esses momentos... Nossa Senhora! E os fãs que ficam nas sacadas dos apartamentos dos prédios ao lado, acendendo e apagando as luzes na hora dos aplausos???? Adooooooro... Bagunça...

Lá vou eu... Quem sabe depois eu consigo comer um acarajé arretado!! AAAAAAAMOOOOOOOOOOOOOOOOO...
Fiquem com Deus, muito juízo no domingo com essa coisa de segundo turno (frio na barriga, né gente? Que que esse povo vai aprontar com a gente???), nada de excessos, e vamo que vamo.

Paz,
MR"

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