quinta-feira, 27 de março de 2014

Maria Rita retoma o samba em novo álbum

O Dia

‘Coração a Batucar’ por muito pouco não foi um disco com ‘a acidez do rock’
RICARDO SCHOTT

Rio - Algumas decisões de Maria Rita não têm sido fáceis. Não foi tranquilo optar por rever o repertório da mãe Elis Regina em ‘Redescobrir’, DVD de 2011, nascido de um projeto da Nivea, ‘Viva Elis’. “Seria muito óbvio fazer isso. Oportunismo barato não faz minha cabeça. O convite veio no momento certo, mas encarei como uma homenagem e não me referi a ela como Elis no palco, só como mãe. Quis cuidar dela, como você cuida de uma mãe quando ela fica mais velha”, conta a cantora, que retoma a trilha do álbum ‘Samba Meu’, de 2007, em mais um CD dedicado ao estilo, ‘Coração a Batucar’.


Maria Rita ainda não foi ver o musical sobre Elis Regina: ‘Sei que a peça está em ótimas mãos’, diz
Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia

A volta ao batuque traz também as lembranças difíceis do fim da turnê de ‘Samba Meu’, que ainda gerou um DVD ao vivo. “Foi um trauma. Em algumas cidades, eles não queriam mais o show do disco, pois já tínhamos passado por elas quatro, cinco vezes. Pela demanda, surgiu um show de violão e voz que gerou o ‘Elo’ (quarto disco)”, recorda, nada saudosa.

Incrivelmente, foi o Rock in Rio, em cujo palco ela cantou no ano passado, que a fez retornar ao samba. “Sugeri cantar músicas do Gonzaguinha, mas não fui com uma formação tradicional de samba”, recorda ela, que convidou o jazzístico Jota Moraes para os arranjos do disco novo. “Algumas músicas têm sonoridade de samba dos anos 50. É eclético, mas não é samba disfarçado.”

Ela revela que a revolta do rock paira sobre o novo disco. “Cheguei a pensar em fazer um disco com essa acidez do rock. Algo mais indignado, de botar tudo para fora”, diz. “Vi um DVD do Metallica e o vocalista (James Hetfield) usava um microfone antigo, de rádio. Perguntei para meu diretor técnico como eu conseguia um daqueles e ele: ‘Não acredito que você tá vendo isso, Maria Rita!’”, diverte-se. A acidez vazou para sambas como ‘Saco Cheio’ (do repertório de Almir Guineto).

Recuperada de uma cirurgia umbilical (por causa de uma diástase muscular) a mãe de Antonio, 9 anos, e Alice, 1 ano (de seu atual casamento, com Davi Moraes), revela que ainda não foi ver ‘Elis — A Musical’. “Estava produzindo o disco e não tive tempo. Mas sei que está em ótimas mãos”, conta. Ela não tem muitas lembranças da mãe, que perdeu aos 5 anos. “Tenho só sensações. Uma vez descrevi para o meu pai a casa em que a gente morava e ele: ‘Não é possível que você lembre disso!’ Fui ao velório dela e achava que ela estivesse dormindo. A única coisa que me falaram foi que ela teve problema no coração. Falava para pararem de falar, para não a acordarem.”

Ela não se abalou com a declaração do novelista Aguinaldo Silva — que disse que “cortaria os pulsos” se a tivesse na abertura de ‘Falso Brilhante’, sua próxima novela. “Vou falar o quê? ‘Goste de mim, pelo amor de Deus?’”

Nenhum comentário:

Postar um comentário