terça-feira, 13 de novembro de 2012

Viva Elis: João Marcello Bôscoli fala de suas lembranças com as músicas de 'Redescobrir'


Por Maria Fernanda Moraes
“A Elis faz parte do imaginário coletivo”, são as palavras de Maria Rita numa das entrevistas de divulgação do Projeto Viva Elis, idealizado por João Marcello Bôscoli, o filho mais velho de Elis Regina. E Maria Rita tem razão. Mesmo depois de 30 anos da morte de Elis, que é considerada por muitos a maior cantora que o Brasil já teve, suas músicas estão na memória de todos, e os shows em homenagem a ela continuam arrastando multidões de fãs.

O projeto engloba a série de shows intitulada Redescobrir, nos quais Maria Rita interpreta o repertório da mãe, e foi lançado em CD e DVD agora em novembro. Além disso, há uma exposição itinerante, um documentário que faz parte dessa exposição e um livro biográfico. Todas as iniciativas foram produzidas por João Marcello, e os shows tiveram a liderança de Maria Rita.



"O filho da cantora revela suas impressões e recorda momentos da vida familiar ao comentar as faixas do CD 'Redescobrir', em que Maria Rita canta Elis."
O repertório traz 29 músicas, entre sucessos e outras canções menos conhecidas. As primeiras apresentações aconteceram ao ar livre nas principais capitais brasileiras. Milhares de fãs – desde os que acompanharam Elis no passado até jovens e crianças – compartilharam momentos de emoção por meio de músicas como 'Romaria', 'Como Nossos Pais' e 'O Bêbado e a Equilibrista' e se divertiram com sucessos como 'Alô, Alô Marciano', 'Arrastão', 'Vivendo e Aprendendo a Jogar', 'Madalena', entre outros.

O show também traz uma homenagem ao grande amigo de Elis (hoje amigo de Maria Rita), o cantor e compositor Milton Nascimento, cujas canções ela gostava muito de cantar. É um bloco com três músicas compostas por Milton: 'Morro Velho', 'O que foi feito Devera' e 'Maria, Maria'. “Surpreendentemente, só ouvi depoimentos emocionados e considerações detalhadas sobre as músicas interpretadas por Maria Rita. Até esperava sugestões, mas não vieram. Ainda! (risos)”, contou João Marcello Bôscoli em relação à recepção do show.



João Marcelo Boscoli


Se para o público é um momento raro de emoção e homenagem a uma grande cantora, para os filhos envolvidos no projeto não poderia ser diferente. Pensando nisso, o SaraivaConteúdo bateu um papo com João Marcello Bôscoli, o filho mais velho de Elis e idealizador de todas essas iniciativas. Ao comentar cada faixa do disco, ele reviveu algumas lembranças em família, revelou os momentos nos quais se emocionou, contou suas impressões sobre cada música e ainda elegeu suas preferidas.


Faixa 1

Imagem: “Ouvir a voz da Elis recitando um texto escrito por meu pai em um show da Maria Rita é uma abertura muito comovente”.

Faixa 2

Arrastão: “O arranjo original era bem samba jazz; a versão da Maria Rita tornou-a contemporânea, mantendo os elementos fundamentais da canção”.

Faixa 3

Como Nossos Pais: “Um hino eterno que, cantado pela filha, ganha vida e ratifica seus muitos significados”.

Faixa 4

Vida de Bailarina: “Uma verdadeira ponte musical atemporal ligando gerações: Angela Maria, Elis e Maria Rita”.
Faixa 5

Bolero de Satã: “Elis e Cauby na versão original; Maria Rita e o céu na nova versão”.

Faixa 6

Águas de Março: “Eu assisti à gravação dessa música em Los Angeles quando tinha 4 anos. Ouvi-la com Maria Rita desata nós no meu coração”.

Faixa 7

Saudosa Maloca: “Adoniran amava a versão da Elis porque era dramática, afinal, a letra narra uma tragédia humana. Maria Rita, de maneira sensível e inteligente, manteve o temperamento triste e delicado da obra”.

Faixa 8

Agora tá: “Festiva, irônica e muito musical, é um samba difícil de cantar e fácil de ouvir. Maria Rita, mais uma vez, canta muito. E do seu jeito”.

Faixa 9

Ladeira da Preguiça: “Uma das minhas composições favoritas do Gil, complexa e cheia de swing. Uma obra-prima do gênero criado por Elis”.

Faixa 10

Vou deitar e rolar: “Originalmente gravada por Elis pra provocar meu pai depois da separação dos dois, mantém seu frescor 40 anos depois. Do tempo que se fazia música pra sempre”.

Faixa 11

Querelas do Brasil: “Com toda certeza, a letra é uma das mais difíceis em toda história da música popular brasileira. A tristeza é perceber que os índios, definitivamente, perderam o jogo”.

Faixa 12

O Bêbado e a Equilibrista: “Só Maria Rita consegue me fazer ouvir essa música como se ela fosse nova, afinal, tocou até saturar. Obrigado, Rita!”.

Faixa 13

Menino: “Coisa de gênio. E Milton [Nascimento] é um gênio. Sacro, belo e maternal”.

Faixa 14

Onze Fitas: “Soa tristemente contemporâneo. Um país com tantos assassinatos deveria sentir vergonha permanente. Pesado”.

Faixa 15

Me deixas louca: “O erotismo e o êxtase femininos transformados em um lindo bolero. Esta foi a última gravação de Elis. Um diálogo de mulher pra mulher”.

Faixa 16

Tatuagem: “Uma de minhas canções favoritas. Nessa etapa de sua vida, como cantora e mulher, Maria Rita, mais do que interpretar, viveu a canção”.

Faixa 17

Essa Mulher: “Sei que é uma das músicas que mais tocam Maria Rita. Sabendo disso, ao ouvi-la cantar, vou às lágrimas com ela(s)”.

Faixa 18

Se eu quiser falar com Deus: “É preciso muita coragem e talento pra encarar essa composição. Maria Rita mostrou pra mim que tem os dois”.

Faixa 19

Zazueira: “Uma brisa de verão no meio do show”.

Faixa 20

Alô, Alô Marciano: “Primeira música de Rita Lee e Roberto de Carvalho gravada por Elis. Ter uma filha chamada Rita cantando-a 32 anos depois é mágico”.

Faixa 21

Aprendendo a Jogar: “Guilherme Arantes, um dos nossos grandes compositores, não era levado a sério pelos ‘puristas’ – até o dia em que Elis gravou essa canção feita sob encomenda pra ela. E a história do Guilherme mudou”.

Faixa 22

Doce Pimenta: “Outra canção feita com exclusividade para Elis. Nunca foi gravada por ela; foi cantada por Rita [Lee] e ela em um especial de televisão. Maria Rita a traz pra casa através desse registro. Um barato!”


Faixas 23 e 24

Morro Velho/O que foi feito/Maria Maria: “Milton foi um dos melhores amigos de Elis e também teve um papel muito importante na trajetória humana de Maria Rita. Um amor que atravessa gerações”.


Faixa 25

Fascinação: “Quase todas as pessoas que assistiram ao show e conversaram comigo apontaram este momento como o mais emocionante. Concordo”.



Faixa 26

Romaria: “Esta gravação, na época, restaurou a importância fundamental da nossa música caipira. Um clássico que levou Elis a um novo público”.



Faixa 27

Madalena: “Um clássico da Elis que é sempre tocado nas festas de samba-rock. A versão da Maria Rita mantém a atmosfera original e transforma o encerramento do show em uma celebração”.



Faixa 28

Redescobrir: “Canção que dá título ao projeto, composta por Gonzaguinha, finalizava o show de Elis ‘Saudade do Brasil’. Maria Rita tinha 3 anos. O tempo voa...”



EXPOSIÇÃO E LIVRO BIOGRÁFICO



A exposição Viva Elis tem curadoria de Allen Guimarães e já passou por São Paulo e Rio de Janeiro. As próximas cidades a receberem o evento são Belo Horizonte e Recife.



Outro braço importante do projeto é a biografia artística de Elis, também batizada de Viva Elis, que traz algumas passagens interessantes que não estavam presentes nas biografias anteriores (a mais famosa delas é Furacão Elis, da jornalista Regina Echeverria). A biografia foi distribuída gratuitamente em instituições de ensino e bibliotecas de todo o país. Em breve, o livro também passará a ser vendido ao público em geral. “Queremos aumentar o alcance do livro, tornando-o disponível para o maior número possível de pessoas – sobretudo as que amam ler e não têm condições. Elis lia muito, tinha uma bela biblioteca e se educou em escola pública. Com essa iniciativa, ligamos os pontos”, contou João Marcello.

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