No CD/DVD, a artista abre mão de recriar as canções e oferece aos fãs saudosos o que eles querem.
Grávida, Maria Rita canta clássicos de Elis Regina, equilibrando muita técnica e alguma emoção - Divulgação
RIO - O grito vindo da plateia era comum: “Elis está viva”. Maria Rita fazia a turnê de lançamento de seu primeiro disco, de 2003, e pesava sobre ela (desde quando participou do CD “Pietá”, de Milton Nascimento, pouco antes), de forma implacável e injusta, o desejo de que suprisse a falta deixada pela mãe. Agora, com os pés firmes na popularidade alcançada na última década e na afirmação de uma identidade própria, ela se sente à vontade para encarar a comparação — e mais, para dar ao público o que ele quer.
Porque no espetáculo “Redescobrir” (Universal), lançado agora em CD e DVD, Maria Rita assume a homenagem — a Elis, a seus fãs — acima de tudo. A estrela ali é a mãe. Ela não toma o show para si, inteiramente, em momento nenhum — Elis está sempre com ela, no seu timbre, nos arranjos e interpretações que, a despeito de serem efetivamente novos, remetem às gravações clássicas da mãe. Há um desejo consciente de humildade e de adequação ao projeto-tributo, mas que tira um tanto das possibilidades artísticas do show.
Restam, porém, a técnica — muita, precisa — e a emoção — presente na diversão sincera de “Ladeira da preguiça” e, mais claramente, nas lágrimas de “Se eu quiser falar com Deus”. Mas — apesar de números mais luminosos e “assinados”, como “Tatuagem” — há um certo ar solene, excessivamente tributário, em momentos como “Como nossos pais” e mesmo na irreverência de “Alô, alô, marciano”.
A ótima banda cumpre com louvor o papel de tornar fresca a sonoridade matriz — com leves ousadias como a guitarra percussiva de Davi Moraes. O longo repertório cobre bem sucessos e belezas menos óbvias (“Agora tá”, “Menino”). Tudo eficaz demais ao que se propõe, mas falta o sopro que eleve o disco — e Elis e Maria Rita.
Cotação: Regular
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