terça-feira, 30 de outubro de 2012

Maria Rita: "não teve drama estar grávida e cantar a música da mãe"


"Queria levar seu nome para o maior número de pessoas. Isso acabou virando uma missão", disse Maria Rita sobre 'Redescobrir'
Foto: Divulgação

Rafael Machtura - Direto de São Paulo

Depois de dez anos de carreira, quatro álbuns e dois milhões de discos vendidos, Maria Rita finalmente fez o que público e imprensa sempre esperavam dela: lançar um trabalho com as canções que foram eternizadas na voz de sua mãe, Elis Regina. Chamado de Redescobrir, um CD duplo, DVD e Blu-Ray apresentam 29 músicas gravadas em um show em São Paulo, em agosto de 2012, após uma turnê que começou com cinco apresentações gratuitas em homenagem aos 30 anos da partida da eterna Pimentinha.

Carregado de emoções e nostalgia de uma filha que tem poucas lembranças da mãe, o trabalho, que chega às lojas em 6 de novembro, também traz mais uma forte ligação materna: Maria está grávida de seu segundo filho, com o guitarrista de sua banda, Davi Moraes. Porém, por mais significativo que seja o momento, essa conexão familiar no palco é amenizada pela cantora. "Não teve esse drama de estar grávida e cantar a música da mãe", explicou. "Sou bem dramática, mas me emocionei igual a minha primeira gestação".

Mesclando momentos de animação e alegria, como em Águas de Março e Saudosa Maloca, com momentos de profunda tristeza, marcada em interpretações de Como Nossos Pais e Se Eu Quiser Falar Com Deus, Redescobrir é a missão de uma filha em manter vivo o vasto legado da mãe. Responsável por cuidar de todo bem artístico de Elis - desde o catálogo musical até a autorização de lançamentos de coletâneas e exposições -, Maria Rita disse que relutou em seguir com a homenagem, por medo do sensacionalismo em cima do projeto. "Queria levar seu nome para o maior número de pessoas. Isso acabou virando uma missão. Sabe, os filhos cuidam dos pais quando eles ficam mais velho", disse.

A decisão de continuar com a homenagem foi tomada após o quarto show da série Nivea Viva Elis - parte por pedidos dos fãs e outra parte pela dificuldade de Maria em se "desapegar" do repertório. "Disse a meu irmão (João Marcelo Bôscoli) que me apertava o coração fazer apenas cinco shows com esse reportório", contou. Mas o papel do público foi essencial, principalmente nas redes sociais. "A reação deles me arrebatou muito. Não conseguia cantar nos primeiros shows com tanta energia vinda da plateia".

A cantora também explicou sobre o motivo da gravação do DVD não ter sido em uma das apresentações gratuitas, com forte apelo da plateia lotada. "Não estávamos pensando nisso. Eu não tinha nem gravadora e o show ainda estava muito cru para eternizá-lo", disse Maria Rita, que depois de dez anos assinada pela Warner Music, se afiliou à gravadora Universal.

"Insegurança descabida"

Manter o legado de Elis Regina vivo não é uma tarefa fácil. Ciente da importância de sua mãe na vida de milhões de brasileiros, Maria Rita também contou sobre os receios de lançar Redescobrir. Um deles seria o sepultamento de sua própria carreira.

"Tive uma insegurança descabida que isso seria o ponto final na minha carreira. Do tipo 'pronto, conseguimos! Agora ela só vai cantar Elis'", explicou. Mas novamente o papel do irmão João foi essencial para seguir em frente. "Ele me disse 'você já tem 10 anos de carreira, olha sua história, olha para os seus números'".

Outro medo de Maria Rita seria a reação dos fãs em relação às mudanças de arranjos das canções, que foram poucas, segundo ela. "Sei que minha mãe é parte da vida deles, por isso me coloquei na posição do público. Poderia ser frustrante para eles, por isso tentei manter os arranjos originais".

Repertório Desafiador

Comparações entre mãe e filha existem e sempre vão existir; Maria Rita sabe disso. Perguntada sobre quais músicas a cantora teve dificuldade, ela foi enfática: "todas!". "A voz da minha mãe tem mais brilho, é, digamos assim, metalizada. É uma coisa na garganta que não é fácil de fazer", explicou. "Arrastão tem um agudo danado, mas é para isso que tem ensaio", contou, rindo.

Maria Rita também comentou sobre a seleção de músicas mais politizadas interpretadas por Elis, como Querelas do Brasil, O Bêbado e a Equilibrista, Menino e Onze Fita. "São canções atemporais. E não sei se são por causa da excelência da escolha dela ou se nada mudou por aqui, o que me assusta", disse. "Mas falar desses assuntos, tomar partido nunca é bem visto aqui e, para mim, isso é importante como artista. É um desafio como interprete por isso para fora, essa indignação".

Há ainda uma música que tem mais peso fora do repertório do que dentro. Em entrevistas anteriores, Maria Rita já relatou que não tem condição de interpretar Aos Nossos Filhos. "Mal consigo ouvi-la, imagina cantá-la. Ela é muito forte", disse claramente emocionada. "Ouvir sua mãe pedindo perdão, por uma série de coisas, por estar na escuridão, precisa de um preparo emocional, para vê-los como humanos. É muito emocionante".

Gravidez

Autodenominando-se "rata de palco", Maria Rita diz que ainda não sofreu com o fim da turnê de Redescobrir, como costuma acontecer com o fim de cada trabalho. Isso porque, a cantora está prestes a ter seu segundo filho. "Meu foco está todo voltado para a maternidade agora. Ainda não sei o que farei depois". Mesmo assim, ela contou que tem três projetos na cabeça, mas que não conta com receio de mau olhado.

Sobre a relação com o marido Davi Moraes no palco, Maria explicou que há maturidade em separar família e trabalho. "O marido fica na coxia. Ali em cima somos parceiros, como o resto da banda e quem trabalha comigo".

Terra.

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