Gazeta do Povo - Caderno G
A escolha do título do show que a cantora paulista Maria Rita traz nesta
sexta-feira a Curitiba, com ingressos esgotados, não poderia ser mais
pertinente: Rede scobrir.
Passados 30 anos da morte de Elis Regina, mãe da artista e uma das maiores
intérpretes da história da música popular brasileira, o espetáculo primeiro foi
concebido para o projeto Nivea Viva Elis, que passou por cinco capitais
brasileiras e levou em torno de 270 mil pessoas aos locais onde foi apresentado.
Os milhares de pedidos de fãs tanto de Elis quanto de Maria Rita, que não
puderam assistir às apresentações, fizeram com que o show ganhasse uma nova vida
e partisse em turnê nacional, cuja próxima parada acontece nesta sexta-feira à
noite no Guairão (veja
o serviço completo do show no Guia Gazeta do Povo).
Como Maria Rita mesmo disse em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo,
concedida por e-mail, embora Redescobrir seja uma homenagem, “não é um tributo
ou um musical”. Portanto, não tem a missão, ou a obrigação, de reproduzir as
canções do vasto repertório de Elis como elas foram cantadas e registradas nas
gravações originais.
Já que não teve, ao crescer, um contato íntimo com o legado artístico e
musical da mãe, algo que ela admite na entrevista reproduzida abaixo, Maria Rita
teve de fazer um trabalho de “redescoberta”, mergulhando nas canções, para
pinçar tanto o que lhe pareceu mais significativo e também a tocava como
cantora.
O resultado desse misto de pesquisa e jornada emocional é uma verdadeira
viagem pela música brasileira do século 20, com clássicos de compositores que
vão de Tom Jobim a Milton Nascimento, passando por Chico Buarque, João Bosco,
Gilberto Gil, Rita Lee, Belchior, Adoniran Barbosa e Gonzaguinha, autor da
canção “Redescobrir”, título do show, e música que encerrava, em uma grande
ciranda, o antológico show Saudades do Brasil, que Elis estreou em 1980. Leia, a
seguir trechos da conversa.
Maria Rita, fale sobre o processo de seleção do repertório do show.
Quais foram os critérios de escolha das canções?
Segui o mesmo critério que uso sempre: ouvi tudo o que tinha disponível, e
separei o que me soava verdade em algum ponto – fosse a mensagem, fosse a beleza
da canção, fosse a força da história. Daí, fui para o estúdio e desenhei o
roteiro conforme conseguia trabalhar os arranjos.
Como foram criados os arranjos? Muitas das músicas ainda estão
presentes no imaginário do público e ousar demais poderia causar um
estranhamento excessivo, talvez indesejado. Mas reproduzir o que foi feito no
passado também seria arriscado, especialmente para você, não?
É uma homenagem, não um tributo ou um musical. Não me senti ameaçada em
momento algum, mas fiz questão de incluir algumas canções que são muito fortes
ou presente do inconsciente coletivo, respeitando a composição original. Os
arranjos, como sempre, foram feitos coletivamente. Tenho total confiança nos
meus músicos, que abraçaram esse desafio corajosamente comigo.
Em que medida você conhecia o repertório e as gravações da
Elis? Você a ouviu muito ao longo da vida?
Não.
Creio que um projeto como esse tenha lhe provocado muitas dúvidas,
sem falar de todo o inevitável peso emocional. Em que momento e por que você
decidiu que seria capaz e gostaria de levá-lo adiante? Teve medo das inevitáveis
críticas e comparações?
De novo esse assunto das comparações... Eu nunca me incomodei com as
comparações, eu sou filha dela, afinal de contas. Sou sim parecida com ela, como
me é de direito! Mas não sou e nem nunca fui oportunista, nunca me aproveitei
dessas semelhanças ou do nome dela – daí minha negação em cantar suas canções de
modo sensacionalista, especialmente no início da minha carreira.
Consequentemente, ficou esse ranço de que me incomodavam as comparações. Já
tenho dez anos de carreira, com alguma história contada, um trajeto que tenho
certeza ser só meu, sem concessões ou mentiras ao meu público, que respeito
imensamente. Tenho uma missão, como filha, que é manter o legado e o nome dela
vivos. Se eu tiver que cantá-la para essa missão, assim o farei. Se tiver que
aprovar o roteiro de um filme, assim o farei. Se for autorizar produção de
camisetas com seu rosto, assim o farei. Sou, enfim, como qualquer filho em
qualquer lugar do mundo.
Depois de todas as apresentações já realizadas do show, muitas em
lugares abertos, qual o sentimento que você guarda do contato com a plateia
cantando músicas do repertório de sua mãe?
Me emociona como as pessoas sentem a presença dela ainda muito viva. Botar
120 mil pessoas para cantar, em coro, “Como Nossos Pais”, em vez dessa onda
monossilábica que assola o país, é um carimbo de força, de lealdade, de saudade,
de genialidade, de um monte de coisa – e essas coisas são só dela. Sou apenas o
canal que permite que se mate essa saudade um pouco, ou que se conheça um pouco
dessa artista corajosa, forte, guerreira, apaixonada.
Haverá um CD, um DVD, desta turnê? Será um registro do show na
íntegra?
Vai... Muitos, muitos pedidos, especialmente de fãs que não puderam ir ao
show. E já que a proposta do lance é “redescobrir” e homenagear, me pareceu
sincero e honesto que esse show fosse registrado para aqueles que não a
conheceram, que têm saudade, que têm paixão tanto por mim quanto por ela, que
querem também participar dessa homenagem. É tudo pra ela. O CD e o DVD saem na
primeira semana de novembro.
Repertório
Confira quais as músicas que a cantora deve apresentar no show Redescobrir:
“Imagem/Arrastão”
“Como Nossos Pais”
“Vida de Bailarina”
“Bolero de Satã”
“Águas de Março”
“Saudosa Maloca/Agora Tá”
“Ladeira da Preguiça”
“Vou Deitar e Rolar
“Querelas do Brasil”
“O Bêbado e o Equilibrista”
“Menino/Onze Fitas”
“Me Deixas Louca”
“Tatuagem”
“Essa Mulher”
“Se Eu Quiser Falar com Deus”
“Zazueira”
“Alô Alô Marciano”
“Aprendendo a Jogar
“Doce de Pimenta”
“Morro Velho”
“O Que Foi Feito/Maria Maria”
“Fascinação”
“Madalena”
“Redescobrir”
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