quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Meio jazz, meio MPB

10/02/2010 - caderno 3

As canções de "Meia-Noite, Meio-Dia", primeiro álbum de Chico Pinheiro, representam uma síntese de uma musicalidade que marcou os anos 2000. O CD está sendo relançado com parceria inédita com Maysa.

De 2003, "Meia-Noite, Meio-Dia" ganha uma oportuna reedição. Não apenas porque o músico paulistano é uma das atrações do Festival de Jazz e Blues deste ano, mas também porque o álbum teve pouca visibilidade, e chega após a badalação de "Chico Pinheiro" (2005), proporcionada por seu lançamento na gravadora Biscoito Fino. Neste, segundo crítica da época de Dalwton Moura, Chico abasteceu seu arsenal harmônico com uma maior variação de ritmos em comparação à registrada em sua estreia. E também cantou suas composições. Já em 2007, espraiou outras destas considerações em "Nova", álbum em parceria com o guitarrista norte-americano Anthony Wilson.

Arsenal municiado por parcerias com Chico César, Guile Wisnik, Paulo Neves e Aldir Blanc, além de canções assinadas apenas pelo instrumentista e compositor que toca na próxima segunda-feira em Guaramiranga. Canções que, numa ponte insinuante entre correntes mais sofisticadas de uma MPB fundamentada em Moacir Santos, Tom, Edu, Donatos, Johnny Alf, Luiz Eça, Hélio Delmiro, Toninho Horta, Ivan Lins, Rosa Passos, Djavan, Chico Buarque e, mais recentemente expandida também por Guinga, Luciana Souza, Ed Motta e a Maria Rita sem sambas, por exemplo, contam com as interpretações destes dois últimos e ainda de Chico César, Lenine e Luciana Alves, além do violão e guitarra de Chico, bateria de Edu Ribeiro, percussão de Armando Marçal, pianos de Fábio Torres e Tiago Costa e baixos de Marcelo Mariano e Paulo Paulelli. Além de uns mais esporádicos naipes de cordas e sopros, dirigidos por Gilson Peranzzetta, e do violão do co-produtor Swami Jr.

Encantos contemporâneos

Apesar das referências, é possível dizer que a musicalidade de "Meia-Noite, Meio-Dia" pertence mesmo à sua época. Uma época em que, graças ao Los Hermanos, até o rock transitou perto desta MPB mais burilada, bordando frases com a bossa nova, o samba-canção e o jazz, em arranjos de banda, de sopros e de cordas. Portanto, sintomático este título. Jovial, notívago, musicalmente maduro e efervescente. Remete à única letra de Chico, uma das jóias encantadas por seu violão, Fábio, Edu e Mariano, além da voz de Luciana Alves, que, felizmente, alinhava o disco com essa turma a bem embaraçar qualquer amante da música brasileira, feliz com sua renovação atual, inclusive nas letras. Feliz, sobremaneira, com as melodias e as harmonias indiscretas de Pinheiro, evidenciadas em seus temas instrumentais "Choro Calado" e "Contemplação".

Também em casa, sob distintos matizes, estão Maria Rita - no samba requintado "Popó" (Chico e Aldir Blanc) e nas canções "Desde o primeiro dia" e "De frente" (Chico e Guile Wisnik) - e ainda Ed Motta, na "Essa canção" (Chico, Guile e Paulo Neves). A de Ed, com um suingue que vai ganhar os tons de Lenine logo na sequência aos vocalizes de "Buritizais", tema de Chico que pode ter dado origem a seu selo, Buriti. A ponte vocal estabelecida com outra geração ganha mais um pilar nordestino, essencial a qualquer renovação musical brasileira: Chico César, parceiro e intérprete de "Aquela" e "Passagem", fundamentais para a amplitude rítmica alcançada por Chico, cuja estreia já nos estimulava, como se vê, a conhecer sua música de perto. Pra marcar ainda mais este relançamento, ele apresenta uma nova canção, sobre um poema inédito de Maysa: "Canto Vagabundo". Novamente na voz de Luciana Alves, é um samba-canção contemporaneizado com sutileza pelos talentos dela e de Fábio Torres (piano), Marcelo Mariano (baixo) e deste novo mago da música brasileira.

"Meia-Noite Meio-Dia"
Chico Pinheiro
R$22,00
15 faixas
2003/2010
BURITI

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