quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

CD e DVD: 'BandaDois' (Gilberto Gil) - Aula de violão com quem conhece

07/01/10 - SRZD

Gilberto Gil já tem em seu currículo álbuns acústicos, como "Unplugged" (1994) e "Gil Luminoso" (2006). Agora é a vez de mais um : "BandaDois", produzido por Liminha, gravado ao vivo em São Paulo, e no qual é acompanhado pelo seu filho Bem Gil, no violão, pandeiro e tamborim. De cara, vem logo aquela pergunta: será que é necessário mais um álbum acústico na discografia de Gilberto Gil? Como nada é tão simples quanto parece, a resposta é sim e não.

Comecemos pelo não. Não é necessário porque um dos maiores compositores da história da Música Popular Brasileira poderia presentear os seus fãs com um álbum de canções inéditas, ao invés de requentar velhos sucessos - embora haja inéditas nesse "BandaDois". Agora o sim. Até mesmo pelo fato de ser um dos maiores compositores da MPB, Gilberto Gil é capaz de reinventar as suas músicas em versões ao vivo cruas apenas com o seu violão e a sua voz, que, aliás, está bem mais limitada hoje - basta ouvir as versões de "Esotérico" presentes nesse novo álbum e em "Unplugged" para sanar as dúvidas.

Mas, apesar de a voz não ser mais a mesma, "BandaDois" pode ser considerado um álbum tão essencial na carreira de Gilberto Gil quanto "Unplugged", que fez com que a nova geração MTV descobrisse a obra do baiano. Só que agora a história é diferente: esses mesmos fãs que se lambuzaram com as versões pop-acústicas de sucessos como "Aquele Abraço", "Parabolicamará", "Realce", "Drão" e "Toda Menina Baiana", agora poderão notar um trabalho mais cerebral e minucioso de reconstrução de velhas canções nem tão conhecidas, como "O Rouxinol", "Banda Um" e "Babá Alapalá" (com participação de outro filho, José Gil, no baixo, que também acontece em "Refavela"). As canções que já haviam sido gravadas no "Unplugged" também ganharam contornos muito mais profundos (e interessantes) como na já citada "Esotérico", além de "A Linha e o Linho", "Super Homem - A Canção"(que deveria se chamar "Super Homem - Uma Nova Canção", tamanho o desdobramento de Gil em remodelá-la), "Tempo Rei", "Refazenda" (em versão mais lenta) e "Expresso 2222", que, com a adesão de Bem Gil na percussão, ficou bem próxima de sua versão original.

Outro fato interessante nesse "BandaDois" é que Gilberto Gil optou por gravar um material mais puxado para o lado B de sua carreira. Assim, o fã poderá relembrar (ou conhecer) joias como "Flora", "Metáfora", "Máquina de Ritmo" (uma das melhores faixas de seu álbum anterior, "Banda Larga Cordel", de 2008), "O Rouxinol" e "A Raça Humana". Pena que várias dessas músicas estejam presentes somente no DVD, extremamente bem dirigido por Andrucha Waddington. Outra canção do repertório de Gil que não é tão conhecida é "Amor Até o Fim", um dos sambas mais deliciosos de sua autoria e que ganhou a participação especial de Maria Rita. A escolha do nome de Maria Rita não foi aleatória. A sua mãe, Elis Regina, já havia gravado a canção com grande sucesso nos álbuns "Dois Na Bossa Número 2" (em parceria com Jair Rodrigues e lançado em 1966) e em "Elis", de 1974.

Gilberto Gil ainda presta homenagem a dois de seus ídolos: Gordurinha (na versão repaginada da ótima "Chiclete Com Banana) e Dorival Caymmi (em versão comportada de "Saudade da Bahia"). Dentre as três inéditas, destacam-se a black "Pronto Pra Preto" (pena que ela só esteja presente no DVD) e a lírica "Das Duas, Uma". Já "Quatro Coisas" só se destaca por ser, de longe, a faixa mais fraca de "BandaDois".

Nos extras do DVD, ao invés do já batido making of, Gilberto Gil mostra como se toca algumas das canções presentes em "BandaDois", em "Aulas de Violão". Mais do que simples aulas, Gilberto Gil explica a gênese das músicas. Mas o mais importante é que a tal aula de violão já havia começado lá no início do DVD, 120 minutos antes, em "Esotérico". O discos de inéditas ainda pode esperar mais um pouquinho. "BandaDois" é indispensável.

Cotação: *****

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