sábado, 3 de outubro de 2009

Simbora pra Jeri!

03/10/09 - O Povo Online

A voz de Mart-nália carrega muitos elementos. Um molejo de um fortíssimo sotaque carioca de quem nasceu num feriado de 7 de setembro e cresceu em meio aos sambistas da Vila Isabel. A cantora fala pelos cotovelos e sabe muito bem de tudo que está dizendo. A palavra vem forte, porém doce, sem medo de dizer, por exemplo, que não tem certeza se gosta de cantar. Entrou na música por insistência. ``Não sei dizer direito, não. Quando estou ali, no palco, eu gosto. Agora, eu prefiro muito mais assistir a um show, estar na plateia. Dá muito trabalho até chegar ao palco``, confidencia em entrevista ao O POVO por telefone.

A cantora é uma das atrações do Jeri Sport Festival, evento desde sexta enche Jericoacoara de música, esporte e lições de ecologia. Mart-nália chega ao distrito de Jijoca com seu show Madrugada e aproveita uns dias de folga para conhecer melhor a praia. Na entrevista que segue, ela se revela uma artista livre para fazer o que gosta. ``Se está bacana, ô, simbora!``


O POVO - Você sempre contou com parceiros ilustres. Já compôs para outros cantores ao mesmo tempo em que recebeu canções de nomes consagrados. O que significa para dividir o sucesso com essas pessoas?
Mart-nália - Na verdade, é muito bacana. Eu já venho fazendo alguns trabalhos com pessoas bastante respeitadas, mas é que elas são muito generosas comigo. O Djavan era meu ídolo, eu sou muito engajada no trabalho dele. O cara que tem um respaldo mundial e é um negão que veio do Alagoas e venceu. Pensar que ele gosta do meu som, assina em baixo, a forma de trocamos música é um presente, colega! E eu não costumo fazer coisas com pessoas que não admiro. O Caetano é meu padrinho, já gravei com o selo da Bethânia, são todas pessoas consideradas. Tem uma força positiva, é muito carinho da parte deles. Eu vivo rodeada de amigos e eles vão me empurrando: vá por aqui, ou por ali, dão conselhos e sabem qual é a minha onda - que é mais para o palco, na felicidade. É gente que eu conheço desde a época em que eu era musicista e fazia vocal. Comecei essa carreira solo meio sem querer e precisei de um empurrão para querer fazer isso.

OP - Hoje o público que acompanha seus shows muitas vezes é o mesmo do seu pai. O que isso representa para você?
Mart-nália - Rola uma continuidade, graças a Deus. Assim como o público, meu pai também me deu esse aval. Ele gosta do meu trabalho. Em tudo que eu faço, sempre tem a música do meu pai passando bem perto. Essa história de ter a mesma profissão, de rolar comparação & isso com todo mundo, Maria Rita e o irmão dela, o Jairzinho, o Diogo Nogueira - acaba fazendo com que a gente demore a querer se encontrar na vida, na profissão. Demore a querer tocar para que não haja comparação. Agora, é muito difícil não ter comparação. Meu pai está vivão, fazendo as paradas, claro que vão comparar.

OP - Que mudanças você identifica no seu trabalho ao longo dos anos?
Mart-nália - Primeiro, eu não tinha a menor vontade de cantar e hoje até acho legal o lance do palco (risos). Fiz os dois primeiros discos (Mart-nália, em 1987, e Minha Cara, 1995) sem a menor vontade. O tempo me deu mais liberdade no palco e hoje eu posso falar com propriedade do que estou fazendo. Nos primeiros discos, eu me intrometia, mas não pra caramba. Desde a percussão pura, como vocalista e até as notas que eu tinha que tocar, não era eu que fazia. Caetano foi me orientando, dizia que eu não precisava berrar. Hoje já conheço minha voz, canto no grave. Para gravar Pé do meu samba (2002) eu já podia falar de igual com os músicos, eles já me respeitavam mais do que quando eu era mais nova. Tenho um produtor, mas eu me meto em tudo e hoje o meu trabalho tem mais a minha cara.

OP - Se você não queria gravar os dois primeiros discos, porque fez isso, então?
Mart-nália - Eu fiz porque as pessoas insistiram. E não foi tão difícil assim (risos). O primeiro disco foi produzido por um produtor do meu pai. Queriam que eu gravasse pagode e eu não estava afim. O diretor conhecia a minha voz, insistiu. Fui, mas pensando: ah, não quero ser cantora.

OP - Mas hoje você já gosta da profissão?
Mart-nália - Não sei dizer direito não. Quando estou ali, no palco, eu gosto. Agora, eu prefiro muito mais assistir a um show, estar na plateia. Dá muito trabalho até chegar ao palco (risos). A produção, o ensaio, tudo... Se fosse só o palco, era bom demais. É como viajar. Quando você já está no lugar, é até legal. Acontece que antes é preciso tirar as malas, arrumar tudo, é chato viajar. Eu gosto, mas é chato. Quando eu já estou lá dentro, eu não fico deslumbrada, porque vejo desde pequena o trabalhão que dava para o meu pai. É bom porque eu já fui aprendendo.


SERVIÇO

Madrugada - show da cantora carioca Mart-nália. Hoje, no 2º Jeri Sport Music Festival, em Jericoacoara. A programação inclui a apresentação dos DJs Sem Loção (Recife), 1° etapa do campeonato Cearense de Kite e apresentação do grupo formado na oficina de instrumentos musicais do evento. A programação é gratuita. Outras informações: www.jerisportmusicfestival.com.br

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