quarta-feira, 2 de setembro de 2009

No balanço e na alegria

02/09/09 - O Povo Online

Há menos de duas semanas, quando a cantora Roberta Sá pisou no palco do teatro do Centro Dragão do Mar, foi ovacionada por um público ávido em vê-la num palco cearense. Mas ela não veio para mostrar seu próprio show e sim como uma das intérpretes convidadas do projeto Alô, alô? – 100 Anos de Carmen Miranda, dividindo o palco com o marido Pedro Luís (do Pedro Luís e A Parede e Monobloco). E é claro, parte da plateia pediu que ela cantasse alguma coisa do seu repertório e Roberta não pode atendê-los.

O fato dá a real medida da importância de Roberta Sá para o atual cenário da música popular brasileira e do descompasso dos produtores locais que ainda não trouxeram a intérprete potiguar radicada no Rio de Janeiro. Ela é, com certeza, uma das mais expressivas cantoras da novíssima geração. Aproveitando a deixa, Roberta anunciou que estaria de volta em outubro como uma das atrações do festival Ceará Music. Mas difícil mesmo é ver seu repertório irretocável sendo recebido pelos fãs de Biquíni Cavadão e NX Zero.

Está chegando às lojas esta semana o DVD e CD Pra se ter alegria – ao vivo no Rio onde se pode ter a exata dimensão da importância de Roberta Sá dentro do cenário atual. Para um Vivo Rio abarrotado de fãs que sabem todo seu repertório de cor e cantam junto, Roberta talvez até se desse melhor num palco mais aconchegante do que no gigantismo da casa noturna da Barra da Tijuca. Mas ela não se faz de rogada e encheu o palco com um carisma sedutor e uma voz de belo timbre a descortinar um repertório que equilibra autores da novíssima geração com compositores consagrados.

Com um longo vermelho e uma sobressaia rosa, Roberta inicia o show com O Pedido e emenda Alô, Fevereiro. Ela abre o laço e se livra da sobressaia rosa, para se soltar mais no palco ao som de Eu sambo mesmo. Aos poucos, o repertório vai crescendo e chegando os hits mais fortes, como Interessa? e A Vizinha do Lado, ambas freqüentaram trilhas sonoras de novelas. O show cresce em consistência e Roberta mostra que é uma excelente intérprete de sambas mas que passeia por outros estilos com igual maestria. Sua interpretação ao vivo para Casa pré-fabricada, de Marcelo Camelo, supera a sua própria de estúdio e até a de Maria Rita. Camelo puxa a série de autores novos como Rodrigo Maranhão e Edu Krieger.

O maridão Pedro Luís sobe ao palco como primeiro convidado para bisar o dueto de Girando na Renda. Ele também assina Agora Sim, em parceria com a própria Roberta e o poeta Carlos Rennó, a única faixa inédita do registro ao vivo. O outro convidado do show é o bandolinista Hamilton de Holanda em Novo Amor e, no final, Marcelo D2 ‘lê’ seu improviso rap no celular em Samba do Balanço, que encerra a parte ao vivo do DVD. Mas o produto traz como saborosos extras os encontros de Roberta Sá em estúdio com Chico Buarque (Mambembe), Ney Matogrosso e o trio Madeira Brasil (Peito Vazio) e o português Antônio Zambujo (no fado Eu já não sei) e o violonista gaúcho Yamandú Costa (Modinha).

Para quem ainda não conhecia Roberta Sá, fique então apresentado e sinta-se à vontade para correr nas lojas atrás dos outros discos. Ah, e ninguém lembra nem que uma dia ela concorreu e foi eliminada do primeiro Fama, programa caça-talentos da Globo, vencido pela hoje esquecida Vanessa Jackson, um vozeirão mas sem consistência de formação.

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