quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

A cultura do barulho: as polêmicas que marcaram 2008

31/12/2008 - JB Online

RIO - Luz, câmera, ação! Atores, músicos, dramaturgos, poetas, artistas plásticos e políticos se espremem enquadrados no plano.

No roteiro, a fauna artística reunida abraça a polêmica, dá corda uns aos outros em discursos inflamados, dispara sacadas inteligentes, ácidas e nonsenses para todo lado e faz barulho, uma quizumba que transforma a cultura em zona temperada de discórdias.

Ao longo de 2008 foi assim e o primeiro alarme não poderia soar mais paradoxal. Apontou, sem pudor, megafones elétricos e carregados para cima da intimista e reservada bossa nova; aquela em que o silêncio de João Gilberto garantia espaço apenas para o escorregar dos dedos em cordas de nylon.

Posta a suavidade de lado, a organização do concerto Bossa Nova 50 anos realizado em fevereiro, na Praia de Ipanema, ganhou angulosos contornos em reportagens do Caderno B.

Coordenado por Roberto Menescal, o evento deixou de fora nomes como Os Cariocas, as cantoras Claudette Soares, Alaíde Costa e Miúcha, e Pery Ribeiro, autor da primeira gravação de Garota de Ipanema.

Dos 42 artistas sugeridos por Menescal, apenas 15 tiveram a honra de representar o gênero, entre eles Fernanda Takai e Maria Rita, intérpretes sem identificação histórica com a bossa.

– Faltou gente nessa festa. Alguns donos se apossaram e disseram: “Aqui ninguém entra”. Não vou dizer nomes, mas teve uma turminha que excluiu pessoas importantes – garante Cynara, do Quarteto em Cy, mostrando que até hoje o assunto é quente.

Contestada, Fernanda Takai rebateu as insatisfações e desabafou ao jornal:
– Eles não me conhecem. Só acho difícil alguém com tanto tempo de carreira falar algo do tipo.

Ela se referia ao ataque de Pery Ribeiro. “Quando soube que o show teria a participação da vocalista de uma banda de roquezinho, enquanto eu era excluído, me revoltei. Isso é um castigo! O que artistas como Emilio Santiago e Maria Rita, com todo o respeito à mãe dela, têm a ver com bossa nova?” - disparou.

Tanto Menescal quanto a diretora artística Solange Kafuri explicaram que não foi possível chamar todos os artistas significativos da bossa nova.

– Eu mesmo não fui convidado para um show em Londres, que tinha Wanda Sá, Carlos Lyra, João Donato e Marcos Valle. Os protestos são uma babaquice – rebateu Menescal.

Uma enxurrada de cartas, respostas e argumentos que envolveram patrocinadores e curadores seguiram adiante, assim como outras dezenas de batalhas polêmicas na área da cultura, durante todo o ano passado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário