30/11/2008 - Revista Metropole
Estilo: figurinistas acompanham clientes famosos (e nem tanto) às compras em São Paulo e indicam o que deve ou não ser adquirido
Sammya Araújo
Mapa na mão, tênis nos pés e cartões de crédito na bolsa já são meio caminho andado, mas podem não bastar para vasculhar araras na hora de renovar o guarda-roupa, aproveitar liquidações ou encontrar “o” vestido na profusão de opções oferecidas pela cidade que é a meca brasileira das compras. Além de muita disposição para caçar boas peças e alinhar preferências, preços e tendências, faro apurado e uma boa agenda fazem a diferença para garimpar como se deve em São Paulo. É aí que uma dupla tarimbada de figurinistas nesse universo pode ser de grande valia, repartindo com os consumidores macetes e segredos acumulados em anos a fio desbravando a metrópole da moda.
As figurinistas são a campineira Picida Gonçalves e a sorocabana Renata Flosi, da Duas Assessoria, que desde 1999 auxiliam famosos e anônimos a se vestirem bem. Radicadas na Capital, ambas começaram como compradoras de redes varejistas. Renata é formada em moda e trabalhou como estilista de jeanswear e couro. Na sociedade, além de fazer produções publicitárias e editoriais, organizar closets e prestar serviços de personal stylist – a cantora Maria Rita, Sandy, Júnior e família são seus clientes mais conhecidos –, elas se dedicam mais recentemente à função de guias de compras.
“A idéia surgiu porque percorremos vários lugares fazendo produções e começamos a receber pedidos de amigos que queriam saber onde achar tal coisa, onde era bom comprar isso e aquilo”, comenta Picida. “Todo mundo sabe que São Paulo tem de tudo, mas é preciso saber onde procurar para achar o melhor”, emenda Renata. E esse “melhor” vai além de uma etiqueta. Nessa categoria, dizem, entra o que realmente caia bem, tenha a ver com a personalidade do cliente e, o ideal, case como uma luva com o orçamento.
Por esses pequenos “detalhes”, o papel das figurinistas não é o da melhor amiga antenada-disposta-a-bater-perna-numa-tarde-de-compras. O método é mais rigoroso e focado. “Fazemos uma entrevista com o interessado, para conhecer um pouco o seu perfil. Idade, estilo, o que está buscando... Com base nisso, vamos moldar a forma de trabalhar”, afirma Picida.
Reality show
Mas as sócias também garantem não se comportar como os implacáveis consultores norte-americanos Stacy London e Clinton Kelly, do reality show Esquadrão da Moda, que detonam a coitada da vez e decretam regras minuciosas das quais ela não pode se afastar um milímetro, se quiser deixar o time das mal-ajambradas. “De jeito nenhum. Estilo a gente não muda. Ajuda a pessoa a encontrar o seu”, corrige Picida.
E elas ressaltam que quem as procura são pessoas que, no geral, desejam praticidade, otimizar seus gastos e não perder tempo com buscas infrutíferas. “Na maioria das vezes, quem nos contrata está querendo dar uma repaginada, mudar alguma coisa”, diz Renata. “Às vezes a intenção é apenas refrescar o visual com acessórios, bolsas e sapatos novos”, completa.
Entre a clientela incluem-se vários perfis, da fashionista que corre atrás do último lançamento ao executivo que precisa mostrar confiança, da senhora interessada em montar uma produção para um evento específico a um grupo de mulheres (elas atendem no máximo quatro por vez) loucas para conhecer tais e tais lojas. Consumidores esses vindos de diversas localidades do País, contam.
Como a mulher de um político do Nordeste que queria remoçar o visual, tornando-o mais condizente com a posição de destaque ocupada pelo marido e as constantes viagens para São Paulo. “Ela precisava estar bem-vestida mas sentia-se insegura; queria parecer mais jovem e mais de acordo com as tendências”, conta Renata.
Munidas de um raio X como esse, que envolve ainda uma lista das lojas ou objetos de desejo do cliente (se ele já os tiver), a dupla traça um plano e parte para a ação prática. Cobrando por hora, elas percorrem com ele dos estrelados corredores da moda paulistana aos rincões do irresistível comércio popular, passando por lojas de rua, shoppings ou pelos ateliês dos estilistas mais em voga. Tudo conforme o gosto, as características e o fôlego financeiro.
Assim, podem entrar tanto no roteiro da grifada Rua Oscar Freire, nos Jardins, e o Shopping Iguatemi, redutos de ricos, famosos e muito bem-vestidos, às lojas baratas da região do Brás e Bom Retiro, onde um olho clínico pode detectar bagatelas. “Dá para garimpar muito bem, sim, para comprar aquelas peças com ‘prazo de validade’ de uma estação só, aqueles modismos que duram seis meses e tchau. As peças importantes orientamos que se escolha de boa qualidade, mas o que se pode fazer aí, com relação a preço, é visitar pontas de estoque ou aproveitar liquidações”, diz Renata.
Mas qualquer um pode se dar ao luxo de contratar um serviço tão badalado quanto esses? A Duas Assessoria assegura que sim, e com vantagens. “O custo-benefício é grande, pois ensinamos a comprar e até orientamos a pessoa a compor uma peça nova com alguma que ela já tenha, mas só sabia usar de um jeito ou deixou guardada porque enjoou dela”, afirma Picida. Renata completa com uma informação primordial. “Controlamos as compras por impulso”, garante. Melhor amiga, agora, só para o cafezinho.
Noely e família estão entre os clientes
Noely Lima, mãe de Sandy e Júnior, também é cliente fiel dos serviços de Picida e Renata. Noely faz uso, principalmente, de uma comodidade oferecida pela dupla, perfeita para quem, como ela, vive correndo: o delivery de roupas. As figurinistas selecionam peças de uma ou várias lojas e levam os looks prontos para que o cliente prove e escolha em casa.
“Eu curto ir à loja e remexer em araras, mas as contratei por questão de necessidade, porque viajava muito com os meus filhos. E acabei gostando, pois as meninas conhecem o que tem a minha cara e trazem várias opções, inclusive propõem montar visuais com o que eu já tenho. Me dão ainda várias dicas, bastando eu dizer se quero ir a uma festa mais fina, ou mais moderna e descolada em outro lugar”, afirma.
Noely também é defensora da tese do bom custo-benefício desse tipo de assessoria. “Qualquer pessoa pode usar, porque a gente acaba comprando menos e economizando, já que o guarda-roupa é otimizado. Pode-se fazer da roupa que você já tem algo completamente novo”, diz.
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