Depois de cumprir a missão de emprestar a voz para interpretar as canções da mãe, a cantora retorna ao terreiro que a faz feliz.
A cantora Maria Rita está mais perto de revelar sua identidade própria. E os espectadores que foram Guairão na noite de sábado (2) para prestigiar o show “Coração a batucar” tiveram uma prova disso. Ao repetir com ênfase a um gênero musical, como fez em 2007 com o álbum “Samba meu”, ela mostrou o que realmente gosta de cantar. “Quer me fazer feliz, me faz sambar”, resumiu no verso da música que abriu o espetáculo.
Talvez Maria Rita sonhe com o dia em que falem sobre ela sem fazer referência alguma a Elis Regina. Perdão, mas ainda não será dessa vez. Seja pela voz incrivelmente semelhante ou pelos trejeitos no palco, a cantora será sempre comparada à mãe.
Mas, Maria Rita está em processo de libertação. Quando iniciou a carreira, em 2003, ela tentava provar que não era apenas uma herança genética e se aproximou da MPB apresentando canções de Lenine e Zélia Duncan. Era menos sorridente e mais melancólica.
Depois de conseguir se estabelecer como artista, cedeu à pressão de interpretar as músicas que ficaram famosas na voz da mãe, nos últimos dois anos. Vencida essa etapa, Maria Rita retoma o curso próprio, com a sua cara, fincando o pé no samba.
O show
Radiante, literalmente, ela alternou dois vestidos de paetês para cintilar no palco. O primeiro tinha um brilho mais contido, acompanhando o perfil das músicas. Já o segundo, na improvável mistura de rosa choque, verde e azul, vibrava como as canções que ressoavam pelo maior auditório do Teatro Guaíra. Uma composição para o jogo de luzes fazia as vezes de cenário. Pareciam grandes pratos de papelão metalizado, mas significavam lantejoulas gigantes. O que era para representar o brilho acabou deixando o palco meio apagado.
Mais um vez, a cantora optou por usar o fundo do palco, mantendo distância de uma dezena de metros das primeiras cadeiras da plateia. Maria Rita fez questão de explicar a escolha. Elogiou o teatro, dizendo que a acústica é incrível, mas que precisava das caixas de retornos para ouvir bem o que estava cantando. “No final do show eu vou me rebelar e vou lá para frente”, avisou.
Maria Rita sambou. Com elegância, estava mais para uma porta-bandeira do que para uma rainha de bateria. No repertório, Arlindo Cruz, Noca da Portela, Almir Guineto e Xande de Pilares, salpicado com algumas músicas de outros álbuns, como Cara Valente e Ladeira da Preguiça. Até por influência do marido, o guitarrista Davi Moraes, o acordes do instrumento se sobressaíram, dando um ar atualizado a sambas com décadas de vida. O teclado também é bem marcante.
Em três músicas, a cantora se permitiu brincar com a voz, assim como Elis fazia – um exemplo é a apresentação de Madalena no festival de Jazz de Montreux em 1979. Em todas as canções, Maria Rita foi acompanhada pela plateia, que cantava baixinho para deixar ela brilhar. Como prometido, no final do show, ela se aproximou do público e desfilou seu samba. Parecia estar feliz. O público, também.
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