segunda-feira, 1 de julho de 2013

Viagem emocional a Elis Regina por Maria Rita, filha

Destak

A voz melodiosa de Maria Rita permitiu à filha de Elis Regina celebrar a música da mãe sábado à noite no Meo Arena (ex-Pavilhão Atlântico), em Lisboa. No dia anterior o espetáculo passou pelo Porto.

Uma Maria Rita filha, emocionada e de coração aberto celebrou em conjunto com uma Meo Arena quase cheia (na sua versão mais pequena e intimista) a mãe, Elis Regina.
«Estou aqui como filha, não como cantora», explicou Maria Rita, enquanto cantava canções da mãe e contava histórias, pormenores, memórias e a forma como lidou com as músicas da mãe, primeiro mal (como adolescente), depois muito bem.

Vestida de branco, como um anjo em palco, com um vestido com uma espécie de “asas”, Maria Rita voou pela carreira da mãe (que não chegou a acompanhar mas veio a conhecer mais tarde). A primeira canção, Imagem, começa com a voz de Elis, mãe, e é completada por Maria Rita, filha.

Depois seguiu-se uma primeira parte do concerto calma nos temas escolhidos, que teve o primeiro grande momento com Águas de Março, onde os versos de Jobim «São as águas de março fechando o verão / É a promessa de vida no teu coração» entusiasmaram o recinto.

Outro dos momentos da noite, com muitos aplausos, aconteceu em mais uma pausa de Maria Rita para partilhar com o público histórias da mãe. Foi quando começou a explicar a alma solidária e de consciência social da mãe, que nos tempos da ditadura militar nunca se coibiu de falar e agir, mesmo com medo. E aproveitou para lamentar o tempo que as novas gerações, já a viver em democracia, demoraram para o atual «momento de acordar». Inebriados «pelo samba e futebol, só agora o Brasil está a acordar», algo que «deixaria Elis muito satisfeita». Altura para o primeiro tema de Milton Nascimento da noite, Menino.

Os sentimentos estiveram à flor da pele em temas como Me deixas louca, Tatuagem e Essa Mulher, altura que Maria Rita aproveitou para explicar como não entendia as canções da mãe em pequena, em adolescente não entendia e não gostava («custa ter uma mãe que é vista por todos de uma forma tão diferente») e como adulta entende-as e gosta muito.

A parte final trouxe mais ritmo e algum rock quando cantou músicas de Rita Lee – Alô, alô, marciano e Doce de Pimenta – e contou como Elis conheceu Lee.

«Rita tinha sido presa pela ditadura militar e minha mãe pegou no meu irmão e foi à esquadra exigir comida, advogado e boas condições, que ela estava grávida, isto sem a conhecer», «depois ficaram amigas». De tal forma que diz-se que o nome de Maria Rita é uma homenagem a Rita Lee, algo que a própria cantora não consegue confirmar mas «gostaria muito».

De seguida veio a homenagem a Milton Nascimento, que tanto compôs para Elis e com quem a mãe tinha uma «amizade tão bonita». Maria Rita admite como foi Milton o seu ‘pai’ como cantora: «foi o primeiro a ouvir-me cantar, a por-me num palco, a apostar em mim».

Após 24 canções, o encore de quatro músicas colocou a sala em delírio, com o público a finalmente aceder ao pedido de Maria Rita e cantar com ela, de pé, a aplaudir temas como Fascinação e Romaria, onde ninguém ficou indiferente ao refrão «Sou caipira, Pirapora».

A energia no fim era de tal forma, que os aplausos continuaram mesmo após a saída de Maria Rita, filha, e as luzes do pavilhão se terem acendido. Uma noite de celebração memorável.

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