terça-feira, 14 de agosto de 2012

O ASSUNTO É: Maria Rita, Elis, mães, filhas e barrigas

Baby Center

Por Fernanda Ravagnani é a editora do BabyCenter Brasil.



Sábado foi um dia especial. Pude levar minha mãe, que era fã, muito fã de Elis Regina, ao show que Maria Rita fez em homenagem à mãe dela, só com músicas de Elis. A
turnê se chama "Redescobrir", mas para mim o nome deveria ser "Reencontro", que foi o que foi.

Quando a Elis Regina morreu, de repente, naquele verão de 1982, minha mãe tinha a idade que eu tenho hoje, e eu tinha 9 anos -- a idade de um dos meus filhos. Para
muitas meninas da minha geração, foi o primeiro grande encontro com a morte: ver as nossas mães tristes, chocadas, desesperadas até, e não poder fazer nada.

Eu me lembro de estar na cama, à noite, perdida nos meus pensamentos, e pedir desesperadamente (a Deus?) que houvesse um jeito de a Elis Regina voltar, ressuscitar mesmo, só para tirar a tristeza da minha mãe.

Eis que 30 anos depois Maria Rita realizou aquele meu desejo de menina. As músicas do repertório de Elis e a voz de Maria Rita, tão filha da de Elis, levaram minha
mãe numa viagem de lembranças. Enquanto nos admirávamos de como a Maria Rita, grávida do segundo filho, teve o pique de aguentar quase 4 horas de show (era a gravação do DVD da turnê, e várias músicas tiveram de ser refeitas, para sorte do público), as barrigas de grávida entraram na conversa.

Minha mãe me contou que chegou a assistir, num show, Elis grávida de João Marcello (Bôscoli), e que viu também Elis cantando com nada menos que a própria Maria Rita na barriga. E que a medida desesperada do meu pai para aliviar dela a grande tristeza de sua vida -- a perda de um bebê, minha irmã mais velha, 12 horas depois do
parto (podem imaginar?) --, foi colocar minha mãe no carro, 15 dias depois da tragédia, e dirigir de São Paulo ao Rio, para levá-la para ver Elis, no Canecão.

Eu não sabia desse gesto do meu pai, e fiquei profundamente tocada.

Maria Rita contou, durante o show de sábado, mais uma história de barriga. Disse que, durante a ditadura, ao saber que Rita Lee, grávida, tinha sido presa, Elis foi para a porta da prisão, carregando um filho pequeno pelo braço, e de lá não arredou pé até ter arranjado médico, advogado e dado o melhor jeito possível naquela situação. Detalhe: Elis não conhecia Rita Lee pessoalmente. Uma enorme amizade começaria ali.

E dava vontade de dar uma de Elis e, quase às 2h da manhã, ir lá no palco resgatar Maria Rita e sua barriga para uma boa noite de sono, depois de tantas emoções e
tantas músicas, que deixaram o público rouco de tanto cantar junto. Profissional e firme como tantas outras grávidas que a gente vê por aqui no BabyCenter, Maria Rita aguentou tudo, cantando lindamente sem (poder) fazer cara de cansada, ainda que fosse a segunda, a terceira versão da mesma música para completar o DVD, enquanto a plateia ainda se refazia das lágrimas que
todos derramaram durante o show.

Porque, no fim das contas, quem estava ali não era tanto a cantora. Era uma filha que perdeu a mãe aos 4 anos, e não teve a sorte que eu tive, a sorte de estar de mãos
dadas com quem lhe carregou na barriga, a sorte de poder arrancar um pouquinho da tristeza e da dor da sua mãe.

Uma noite de barrigas, de mães e filhas. A barriga da Rita Lee, uma das responsáveis pelo meu fascínio desde menina pela gravidez (por causa da contracapa do disco
"Tutti Frutti", em que ela aparece barrigudíssima e da qual eu, menina, não conseguia tirar os olhos), a barriga de Maria Rita, as barrigas de Elis, a barriga da minha mãe com a irmã que não conheci. Barrigas, mães e filhas. Um lindo reencontro.

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