segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Emocionada, Maria Rita grava DVD em homenagem a Elis em SP

Terra

Elisa Feres - Direto de São Paulo

Fotos: Léo Pinheiro/Terra e Orlando Oliveira/AgNews

Redescobrir. O nome escolhido para a turnê que marca os 30 anos da morte de Elis Regina traduz exatamente o clima que tomou conta do Credicard Hall na noite deste sábado (11), em São Paulo. Na apresentação, que foi registrada para virar DVD, Maria Rita cantou alguns dos grandes sucessos da carreira de sua mãe e fez o público relembrar - ou descobrir mais uma vez - porque Elis é um dos maiores nomes da história da música brasileira.

A cantora subiu ao palco às 22h30, meia hora a mais do que o horário previsto, ao lado de Silvinho Mazzuca (baixo), Thiago Costa (piano), Cuca Teixeira (bateria) e Davi Moraes (guitarra). Em um cenário simples iluminado por luzes baixas, apareceu com figurino todo branco e deu boas-vindas à plateia cantando os primeiros versos de Imagem. Durante a execução, fez uma pausa e se afastou para que todos ouvissem e prestassem atenção apenas em uma gravação com a voz de Elis. Foi como se quisesse mostrar quem realmente era a estrela da noite. A música foi emendada com Arrastão e em seguida veio Como Nossos Pais, hino cantado em coro por um público que entrava aos poucos em estado de nostalgia.

Ao final da canção, agradeceu delicadamente (e um tanto tímida) a presença de todos. "Não sei nem o que dizer. Muito obrigado é pouco. Cara, que lindo! Obrigada pela presença, pela paciência, pela espera. Como filha, não como intérprete. Esse DVD só está acontecendo por causa de vocês".

Faixas mais animadas como Águas de Março, Agora Tá, Quarelas do Brasil e Vou Deitar e Rolar fizeram com que a artista se soltasse, deixando o pedestal de lado para arriscar alguns passinhos de samba. Foi com elas também que divertiu a plateia fazendo caras e bocas, ocasiões em que mostrou, pela primeira vez ali, a indiscutível semelhança com a mãe. Depois de O Bêbado e a Equilibrista, apostou em mais um discurso, desta vez destacando a veia política de Elis. "Essa música foi um hino da anistia. É um boníssimo exemplo de uma das principais características de minha mãe, que foi sua consciência social e política. Ela tinha medo, mas achava que sua obrigação de cantar era maior".

Neste momento, já tinha ficado claro que a apresentação não fugiria daquilo que foi mostrado nos shows anteriores do projeto - afinal, tudo estava acontecendo exatamente da mesma maneira e na mesma ordem.

Dois outros grandes nomes da nossa música, Rita Lee e Milton Nascimento, foram tema de suas falas seguintes nos momentos mais emocionantes do show. A primeira a ser assunto foi a roqueira, citada logo depois da apresentação de Doce de Pimenta. "Rita escreveu essa música para minha mãe, que, para quem não sabe, tinha o apelido de 'Pimentinha'. As duas se conheceram na época da Ditadura Militar. Rita foi presa quando estava grávida e aquilo irritou muito minha mãe, que foi até a cadeia e falou que só sairia dali quando as coisas fossem resolvidas", disse. "Rita se encantou. Por isso dizia que ela era um 'doce de pimenta'. Há quem diga que meu nome foi dado por causa dela. Não sei se é verdade, mas não desminto jamais", brincou. Após Morro Velho, O Que Foi Feito e Maria Maria, foi a vez de Milton, lembrado não só por ter sido um dos principais compositores de Elis, mas também por ter se tornado um amigo com quem ela teve uma relação extremamente próxima. "Minha mãe costumava dizer que, se Deus tivesse voz, seria a de Milton Nascimento. E o Milton diz que ainda hoje compõe suas músicas pensando em Elis".

Essa Mulher (cantada aos prantos), Zazueira, Alô Alô Marciano e Se Eu Quiser Falar com Deus foram outros destaques do repertório. Por fim, o bis veio com Fascinação, Romaria e Madalena. Com os olhos baixos e cheios d'água, a cantora se despediu, aparentemente satisfeita, com a canção que dá nome à turnê. Como é comum acontecer em gravações de CDs e DVDs ao vivo, algumas faixas, como as da abertura, tiveram que ser executadas mais de uma vez.

Maria Rita conviveu pouco com sua mãe. Quando Elis morreu, em janeiro de 1982, ela era apenas uma criança de 4 anos de idade. Em entrevistas, costuma dizer inclusive que não tem muitas lembranças concretas ao lado dela. Talvez por isso tem se emocionado tanto nesses últimos shows. Talvez esses sejam os momentos de maior troca e maior proximidade que já existiram entre as duas. E eles não poderiam acontecer em outro lugar se não ali, sob o palco.

Os próximos shows de Redescobrir serão realizados dia 12 de agosto, novamente no Credicard Hall, em São Paulo, e dias 18 e 19 no Chevrolet Hall, em Belo Horizonte.














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