quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Maria Rita diz que produziu seu mais recente CD, 'Elo', entre o palco e o estúdio

Saraiva Conteúdo


Por Diego Muniz

Poucas cantoras têm o poder de movimentar o mercado fonográfico e chamar a atenção da imprensa quando lançam um trabalho. Maria Rita se encaixa bem nesta seleta turma. A intérprete, que acabou de colocar na praça o álbum Elo (Warner), dividiu a opinião ao produzir pessoalmente o CD.

Entre músicas conhecidas e canções inéditas, Maria Rita volta ao lado mais intimista e sem esquecer o samba. Em entrevista exclusiva para o SaraivaConteúdo, ela revela que não queria entrar no estúdio para gravar um novo projeto, porque decidiu assinar a direção do trabalho e como faz para correr atrás do tempo que morou fora do país.


Como foi produzir o seu CD?

Maria Rita. Sempre me envolvo intensamente nos meus discos, tanto que sou coprodutora de todos eles. Esse, especificamente, não foi nenhum bicho de sete cabeças, uma vez que foi um disco que migrou do show, que, por sua vez, foi dirigido por mim – assim como todos os outros. Foi muito fácil, simples. Já estava pronto.

Como produtora, o que você pensou para o disco? Como cantora, quais foram suas preocupações e ideias?

MR. Tendo em vista que o disco veio de um show que já estava pronto, não teve uma concepção, um desenhar de ideias, um estudo de sonoridade. Já estava pronto no palco, só entrei em estúdio e registrei tudo como é ali em cima (no palco).

Você precisou separar a cantora da produtora para criar o CD?

MR. Esse distanciamento foi necessário, principalmente porque a pressão que damos em cima de um palco é radicalmente diferente da que se dá em estúdio. Sou uma cantora de muita dinâmica, com momentos explosivos e intimistas ao extremo. Tal dinâmica nem sempre foi fácil de transpor para o estúdio, para a captação. Essa limitação foi o desafio maior, e achar o equilíbrio perfeito, que desse a real noção do que era feito no palco, como produtora, só foi possível afastando a cantora e o apego da cantora ao palco.

Por que voltar para uma sonoridade mais intimista?

MR. Porque foi o que decidi enquanto cantora pro show que gerou o disco depois desses ano-e-meio. O Samba Meu era “barulhento” e “exibido”. Não queria uma superprodução. Queria cantar. Não queria entrar em estúdio e gravar um novo disco, mas também não queria sair do palco. O intimista permite a voz como o quarto instrumento em cima do palco, e era exatamente isso que eu estava procurando àquela altura.

Quais os tipos de cuidados e como você faz para personalizar músicas conhecidas como História de Lily Braun, Menino do Rio e Nem um dia, presentes neste trabalho?

MR. Eu não estudo a história de uma música quando decido cantá-la ou gravá-la. Ela faz parte de mim por qualquer que seja o motivo. Conforme vou cantando – nos ensaios, no chuveiro, em casa, no carro – ela vai se transformando, vai entrando em mim até que eu sinta que ficou o mais natural possível. Mas, inicialmente, ela já me pertence, pertence à minha historia. Há outra coisa: geralmente, quando ouço a canção, eu já percebo as intenções dela, já escuto o arranjo pronto, me vem tudo na cabeça – e isso também tem a ver com a coisa de ela me pertencer antes de mais nada.

Como intérprete, qual diferença você sente entre gravar músicas pouco conhecidas como “Conceição dos Coqueiros” (Lula Queiroga), “Santana” (Junio Barreto) e “Pra Matar meu Coração” (Pedro Baby/Daniel Jobim) e clássicos de Caetano, Chico Buarque e Djavan?

MR. Não sinto muita diferença enquanto intérprete. Mas tenho a consciência de que os grandes clássicos são mais difíceis por terem suas histórias no imaginário das pessoas.

Você morou um tempo fora do Brasil. Como cantora, o que você faz para recuperar o tempo e conhecer melhor a música nacional?

MR. Busco conhecer as coisas que rolaram por aqui e que eu perdi, como Chico Science, por exemplo. Gente importante, que fez diferença, que acrescentou e que eu não conheci, não ouvi, não participei. Mas não faço disso uma bandeira, não. Aceito que não deixa de ser uma coisa positiva não ter tanto conhecimento assim. Saber demais poda o raciocínio, o orgânico.

O Elo foi gravado em 10 dias, um prazo até curto quando se fala em estúdio. Como você conseguiu gravar um disco nesse prazo?

MR. Porque a turnê já vinha rodando há um ano e meio, e esse disco nada mais é do que o registro das canções ainda não registradas que foram apresentadas no show.

Qual o ‘elo’ que une as músicas desse novo trabalho?

MR. O elo não está nas canções, mas sim na história que se desenrolou na estrada com esse show, que era pra ser uma coisa pequena, de curta temporada em SP, e acabou crescendo e viajando o país, para minha completa surpresa. O elo é com a confiança em mim depositada pelo publico, que possibilitou essa estrada.

Quatro anos sem entrar no estúdio foram importantes para quê?

MR. Não sei se entendi bem sua pergunta, mas eu não sou uma artista que precisa de produto na praça… Minha relação é com a arte, com a Música, e não com os números de mercado. Minha paixão é o palco, é o cantar. Esse é o meu lugar no mundo. Talvez esses quatro anos sem estúdio tenham sido mais importantes para quem me acompanha – positiva ou negativamente – do que para mim mesma.

Qual é sua relação com os compositores que você gravou?

MR. Eles são os gênios – eu, a mensageira, rs… São pessoas generosas demais em terem me emprestado suas criações para realizar a minha maluquice. Alguns não conheço muito, outros admiro de longe, de alguns ganhei a amizade. Sou muito tímida, pedir para um compositor para gravar alguma canção dele é um sofrimento para mim. Mas enfim – em frente sempre, né?

Como chegam as músicas até você e o que te faz gravá-las?

MR. Recebo canções de tudo quanto é lugar do país. Sempre tem alguém me entregando suas obras. Ou chega através das editoras, quando se torna sabido que estou em estúdio. É muito gratificante perceber que o compositor confia em mim, ou acredita em mim – aceita ter sua obra na minha voz. Gravo a canção que me toca, seja qual for o motivo. Vale uma letra incrível, vale uma melodia singela, vale uma sensação honesta. Fazer uma interpretação implica, para mim, entender aquela canção.

Seu quarto álbum saiu como você imaginou?

MR. Quando montei o show, eu não tinha a menor intenção de que virasse um disco ou um DVD, nada do gênero. Portanto, o álbum não saiu exatamente como eu imaginava que meu quarto álbum seria, se considerarmos que esse disco só existe graças aos pedidos do público, que queria o registro das canções inéditas. Mas não posso negar o absoluto orgulho que tenho do processo de gravação, das coisas que aprendi com esse disco. E a alegria que me dá ao ver que o publico entendeu tudo isso, que está curtindo o disco, que histórias estão sendo escritas e contadas por causa desse registro. Como costumo dizer, é realmente a sensação da missão cumprida – e, nesse caso, com o inesperado como cerejinha do bolo.

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