terça-feira, 25 de maio de 2010

Rui Veloso: “Apesar de estar mais velho, gosto mais dos tempos de agora”

22/05/2010 - Vidas

Aos 52 anos e a completar 30 de carreira, o músico actua hoje no Rock in Rio. Pretexto para rever a matéria dada.

Rui Veloso, Maria Rita e Tony Garrido juntos no Rock In Rio. O que é que esta mistura vai dar?
(risos) Boa pergunta! Não faço a mínima ideia, mas acho que vai correr bem (risos). Eu gosto muito da Maria Rita e como somos dois músicos que se mexem muito bem em várias áreas, acho que vai resultar.

E quanto ao Tony Carrido?
Com o Tony Garrido ainda vai ser menos complicado. É reggae! (risos)

O que estão a preparar em concreto em termos de alinhamento?
Já temos as coisas bem definidas, mas não interessa revelar muito. Posso dizer apenas que vamos começar com ‘Encontros e Despedidas' que é uma música muito bonita do Milton Nascimento. Pelo meio vou tocar muita guitarra e portanto vou estar em casa (risos).

Este encontro é uma estreia para os três ou já tinham trabalhado juntos antes?
Eu já tinha tocado com o Tony no Optimus Open Air e correu lindamente. Conheci-o aí pela primeira vez. Com a Maria Rita tive o fim-de-semana passado com ela em Madrid, fui ouvi-la cantar e estivemos um pouco á conversa. Com ela vai ser de facto uma estreia. Eu disse-lhe: "Olha eu não sei se vai resultar!" e ela respondeu-me logo. "Vai, vai. Vocês vai ver que vai ser muito bom".

O Rui já passou por tudo o que é palco e já não é um tipo propriamente impressionável, mas esta marca Rock in Rio faz deste um espectáculo especial?
Este é especial, porque vai originar um encontro inédito que provavelmente não se vai repetir. E claro que se não fosse o Rock in Rio, isto não aconteceria.

O Rui comemora também este ano 30 anos de carreira. O que te recorda daquele famoso concerto no estádio do Restelo em 1980 na primeira parte dos Police?
Lembro-me que estava cheio de medo (risos).

Mas qual é a memória mais viva que guarda dessa noite?
Acho que o mais engraçado para mim foi mesmo conhecer o Sting. Tinha estado com eles no dia anterior e isso marcou-me muito. Claro que tocar depois para aquela gente toda também foi muito especial. Como ainda tinha muito pouco reportório tive de tocar a ‘Rapariguinha do Shooping' e o ‘Chico Fininho' duas vezes. Lembro-me também que tivemos um problema à chegada. Não nos queriam pagar antes do concerto e eu recusei-me a tocar. Foi o irmão do Stuart Copeland que era o manager da banda na altura, que rompeu por ali dentro e disse ao tipo que nos devia pagar o cachet: "Meu caro amigo, ou estes senhores fazem a primeira parte ou os Police não actuam!" (risos).

Lembra-se de quanto recebeu por esse concerto?
Não foi muito. Foram quarenta contos, mas o fulano teve que nos pagar, a mim e à banda, em dinheiro vivo porque a malta só queria receber em notas (risos).

A uma distância de 30 anos, como é que olha hoje para o ‘Ar de rock' (primeiro disco de Rui Veloso)?
Acho-lhe piada. Tem músicas muito boas, mas era um disco muito ingénuo. Foram as primeiras músicas que eu e o Carlos Tê fizemos e por isso até acho que eram bastante boas. Agora, era um disco muito naif. Foi gravado quando nós não tínhamos experiências nenhuma de estúdio.

Tem esse disco guardado num sitio especial?
Não. Por acaso até é a minha mãe que tem esses discos guardados. Eu dava-os todos. Cada vez que ia alguém lá a casa, eu dava um disco. Depois ficava sem ele, à espera que me enviassem outro. E era sempre assim. A minha mãe é que tem uma série de LP's do ‘Ar de Rock' guardados.

O Rui é muito saudosista em relação àquele período?
Não. Nada! Gosto muito de mais dos tempos de agora, apesar de estar mais velho. É muito mais divertido. E agora estão muito mais ‘rico'. Tenho três filhos e na altura não tinha nenhum (risos).

Como é que um jovem de 23 anos lidou com o sucesso e os prémios que recebeu logo?
Ainda no outro dia fiquei em estado de choque quando comecei a fazer as contas e percebi que nessa altura tinha 23 anos (risos). Eu era um miúdo que não estava preparado para nada daquilo. Andei à nora.

Mas lidou bem com o assédio da imprensa e a fama repentina?
Completamente. Nunca liguei muito a isso. A minha vida sempre foi muito isto, gravar discos e fazer concertos. As vezes as pessoas são famosas não pelas razões que gostariam, mas no meu caso as pessoas reconhecem-me por causa do meu trabalho. E é isso que me faz andar ainda cá, 30 anos depois, incrivelmente.

Hoje aos 52 anos o que ainda existe daquele rocker que em 1979 formou a banda sonora?
Na verdade nunca fui muito rockeiro, fui mais blueseiro (risos). Claro que eu ouço muita coisa do chamado rock, mas para mim o rock é uma coisa muito vasta que vai desde o Bruce Springsteen ao Tom Petty. Eu tanto ouço coisas antigas como Led Zeppelin como de repente passo para uns Arcade Fire que gosto muito. Hoje é difícil encontrar boa música. Há muita cosia que é feita apenas para ganhar dinheiro, muita coisa plástica.

Mas a idade mudou ou refinou os seus gostos musicais?
Não. Eu tenho sempre um espírito de descoberta muito grande. Gosto sempre de andar à procura de coisas novas e que me inspirem. Sabes que um músico anda sempre a tirar ideias daqui e dacolá (risos). Faz parte. Roubar é que é chato. E actualmente parece que roubar é uma arte.

Disse uma vez que gostava de acabar a sua carreira como guitarrista de uma banda. Essa vontade ainda existe?
Por acaso até vou com o Tim ao Sudoeste fazer mais ou menos isso. Às vezes gosto da sensação de estar um bocadinho por detrás destas coisas. Eu até costuma dar o exemplo do David Guilmour que fez uma digressão com o Pete Townshend, em aparecia escondidinho lá atrás a tocar guitarra eléctrica.

Este ano foi homenageado no Biography Channel. Foi estranho ver-se num documentário?
Por acaso até achei muito bom. Reconheci-me muito ali. Estava muito bem feito. É normal que lá por fora se façam estas coisas.

Os problemas de saúde estão afastados?
Sim, está tudo definitivamente afastado. Já estou a comer e a beber bem (risos).

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