quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Vamos dançar de novo

13/01/10 - O Povo Online

Quando estreou há 21 anos, o então jovem Ed Motta convidou o Brasil para dançar. O convite foi aceito e seu primeiro disco, então à frente da banda Conexão Japeri, se tornou uma das boas trilhas no finalzinho dos anos 80 quando a geração do rock nacional dava sinais de cansaço. Tinha então 17 anos e era apontado como uma das figuras mais promissoras do pop brasileiro para os próximos anos, ao lado da nascente geração de cantoras como Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e Cássia Eller.

Porém, a promessa não se concretizou de maneira assim tão firme. Ed Motta meio que se perdeu na miríade de referências e na busca de um virtuosismo, tentando refletir ao máximo a gama de conhecimentos que possui como colecionador voraz de velhos vinis de soul, funk e jazz, além das referências a quadrinhos, e investidas como amante da gastronomia, dos vinhos e charutos. Passou então a pontuar sua carreira por investidas em sons mais complexos de projetos como Dwitza (2002), Aystelum (2005) e Chapter 9 (2008).

O pop passou a ficar em segundo plano. Mas foi num CD pop que Ed Motta quase iguala ao sucesso de seu disco de estreia: Manual Prático... (1997) e As Segundas Intenções... (2000), que geraram sucessos como Fora da Lei e Colombina. Está chegando às lojas agora Piquenique (Trama), onde Ed Motta faz as pazes com o som mais acessível, bem dançante e solto. Mas, como deixa transparecer no título, o novo CD parece uma pausa para relaxar dos projetos mais -cabeça- do artista, hoje com 38 anos.

É uma pena que o Ed Motta adulto parece acreditar que música pop, radiofônica seja sinônimo de letras rasteiras, de rimas pobres. Vamos a alguns exemplos: na primeira faixa, Minha vida toda com você, ele canta no refrão -Bebo mel/ estou no céu-. Não é tão ruim? Então confira Mensalidade, onde surge a pérola ``Pago mensalidade/ E nem cheguei na metade``. O crédito das letras são todos para Edna Lopes, esposa do artista, e o próprio Ed. A única letra não assinada por eles é Nefertiti, uma nova parceria com Rita Lee & repetindo o bom resultado de Colombina.

Mas há momentos mais deliciosos como Pé na Jaca e a faixa-título, Piquenique, onde as letras não comprometem o som cheio de groove e irresistível que marca todo o CD. É sempre bom dar os créditos para a parceria na produção do paulistano Silvera, vocalista e instrumentista com referências bem próximas de Ed Motta e a união gera uma sonoridade geminada. Mas é claro que a principal atração do CD é o dueto de Ed Motta com Maria Rita em A Turma da Pilantragem, homenagem ao movimento criado por Carlos Imperial e que tinha como expoente o grande Wilson Simonal. Pena que a faixa não tenha o mesmo apelo de outro dueto de Ed: em Ainda lembro, com Marisa Monte.

Ed Motta nos convida a cair na dança novamente. Mas falta ênfase neste convite. Há algo de superficial e efêmero em Piquenique.

SERVIÇO
PIQUENIQUE - Mais recente CD do cantor, compositor e produtor carioca Ed Motta. Participações: Maria Rita, Liminha e Marya Bravo. Produção: Ed Motta e Silvera. Lançamento Trama. 12 faixas. Com letras. R$ 28,00.


Ouça trechos das músicas do novo CD de Ed Motta no:
www.opovo.com.br/conteudoextra

DISCOGRAFIA
> Ed Motta & Conexão Japeri (1988)
> Um Contrato Com Deus (1990)
> Entre e Ouça (1992)
> Ao Vivo (1993)
> Manual Prático Para Festas, Bailes E Afins (1997)
> Remixes E Aperitivos (1998)
> As Segundas Intenções do Manual Prático (2000)
> Dwitza (2002)
> Poptical (2003)
> Ed Motta Ao Vivo (2004) também em DVD
> Aystelum (2005)
> Chapter 9 (2008)
> Piquenique (2009)

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