quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Edu Krieger lança o segundo CD e se firma como um dos compositores mais requisitados de sua geração

29/10/09 - Correio Braziliense

Quando começou a compor, por volta dos 20 anos, Edu Krieger passou um ano inteirinho se obrigando a fazer uma canção por dia. A maioria acabou no lixo. Para ele, o que valia era o exercício de elaboração, de construção da música. Dessa primeira safra, a que mais vingou foi Ciranda do mundo, gravada por Pedro Luís e a Parede, Maria Rita e ele mesmo, em seu disco de estreia, lançado em 2007. As mais antigas, ou ele entregou para outros intérpretes, ou usou como ponto de partida para uma ideia diferente, ou simplesmente esqueceu.

“Descarto sem piedade, não tenho nenhum apego. As que sobrevivem na minha memória são as que considero aptas a ocupar um espaço no mundo”, ri o carioca de 35 anos que está lançando o segundo CD pela Biscoito Fino, Correnteza, com 12 faixas compostas por ele (três em parceria), quase todas feitas de 2007 para cá. “Gosto que o trabalho saia com o estado de espírito do momento. E esta é uma fase muito feliz, o disco reflete essa leveza”, completa Edu, que não está no projeto que começa amanhã no CCBB, mas, pode apostar, caberia bem nele.

Com estreia em Brasília marcada para este ano — ele foi selecionado pela Pauta Funarte e fará show na cidade entre novembro e dezembro (a data não está definida) —, Edu Krieger vem sendo gravado por cantoras como Maria Rita, Roberta Sá, Silvia Machete e Aline Calixto. Compositor talentoso, com mais de 100 músicas arquivadas no computador (as que resistiram ao crivo rigoroso), ele gosta de escrever sozinho, mas também arrisca parcerias com a turma da Lapa (Moyseis Marques, Teresa Cristina, Ana Costa). No segundo disco, as três faixas que não assina sozinho são divididas com Raphael Gemal (Feira livre), Zé Paulo Becker (Sobre as mãos, gravada com João Donato ao piano) e Marcelo Caldi (Serpentina). E como escreve bem. Ouça A mais bonita de Copacabana, que ele gravou com a participação especial de Rildo Hora. É linda.

Primeiros passos

Premiado com o Shell de melhor música em 1998 pela trilha da peça O auto da compadecida, dirigida por Antonio Abujamra, e com o troféu de artista revelação de 2007, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Edu Krieger começou cedo na música. Filho do maestro Edino Krieger, aos 7 anos já fazia parte do coro infantil do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Na pré-adolescência, apaixonado pelas harmonias da bossa nova, vivia comprando revistinhas com cifras para o violão. Estudou violão clássico também, “para ganhar base técnica”. A composição é que surgiu um pouco mais tarde, por volta dos 20. “Canções dependem de vivência, né?”, justifica o rapaz, que faz música e letra praticamente ao mesmo tempo. “Uma não surge dissociada da outra. É muito difícil eu criar só uma letra, ou só uma música.”

A inspiração vem do cotidiano, do que acontece ao seu redor. “Minhas letras são simples, objetivas e diretas. Elas têm uma construção poética rigorosa, na questão das rimas, de buscar palavras inusitadas, mas são, de modo geral, de fácil compreensão”, observa. As referências estão na literatura —- ele adora Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Mario Quintana — e nos grandes letristas da música brasileira. “Quem tem acesso à obra de Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Vinicius de Moraes e Noel Rosa está muito bem servido de referências. Sempre busquei escutá-los com atenção.”

O respeito pelos mestres também vem da estrada. Enquanto rabiscava suas primeiras canções (e não mostrava para ninguém), Edu Krieger ganhava a vida como baixista. Começou no instrumento aos 18 anos, teve um grupo de forró universitário, o Paratodos, e acompanhou nomes como Geraldo Azevedo, Alceu Valença e Elba Ramalho. Seu último trabalho como instrumentista foi na banda de Sivuca. “Passei seis anos tocando com ele. Foi uma faculdade. Quando ele morreu, vi que não tinha mais nada para fazer como baixista”, comenta.

Geraldo Azevedo, o “ex-patrão”, virou parceiro, participou do primeiro disco. Agora, Edu está engatando uma parceria com Moraes Moreira. “Acho o maior barato ver esses caras, que são mestres, reconhecidos internacionalmente, atender telefone, bater uma bola, sem essa coisa de celebridade. Porque tem artista da minha geração com quem não consigo falar. Tenho de ligar primeiro para o assessor, depois para o escritório, deixar recado para ver se me retorna… Essa frescura me incomoda, sabe?”

Ouça trecho de A mais bonita de Copacabana, com Edu Krieger

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