domingo, 30 de agosto de 2009

A renascida música cubana

Diário de Pernambuco

Lá se vão treze anos desde que músicos cubanos do quilate de Ibrahim Ferrer, Compay Segundo, Rubén González e Omara Portuondo se reuniram no Egrem Studio, em Havana, para gravar um disco que transformaria a música do país de Fidel. Naqueles seis dias de trabalho, eles não tinham noção da proporção que o álbum Buena Vista Social Club, vencedor do Grammy, iria tomar. Muitos estavam desgostosos com a música ou com a realidade de fazer arte num país comunista. O pianista Rubén González, por exemplo, não tinha um piano. Ibrahim Ferrer vendia bilhetes de loteria. Quando foi convidado para participar do projeto, estava lustrando um par de sapatos.

"A nossa música, a música popular, havia perdido lugar na cadeia internacional de distribuição por causa das situações políticas. Cuba estava um pouco apartada do mundo, do mercado da música, por causa dessa situação. Mas, sempre, no mundo, se escutou a música cubana. Foram momentos muito complicados neste aspectoporque não tínhamos acesso aos aparatos de publicidade e distribuição da música de nível internacional", conta Amadito Valdés, que não participou da gravação do álbum antológico, mas estava nos três momentos em que o grupo conseguiu se reunir para tocar. Foram dois concertos na Holanda e um nos Estados Unidos, no Carnegie Hall, em Nova York.

Amadito Valdés (que toca timbale e foi indicado ao Grammy em 2003) e Barbarito Torres (este sim, participou tanto da gravação como dos shows e toca alaúde) vêm ao Recife para participar da Mostra Internacional de Música em Olinda - Mimo, que tem início na próxima quinta-feira. Eles vêm com outros músicos que hoje integram a orquestra do Buena Vista Social Club. O show dso cubanos será no próximo sábado, dia 5, no palco Praça do Carmo, em Olinda, às 21h30.

"Com o apoio do Buena Vista, nós entramos em mercados que, como eu dizia, tínhamos perdido. Isso levou músicos de todas as partes do mundo a fazer música cubana", complementa Valdés. A história desses músicos se tornou ainda mais conhecida com o documentário de Win Wenders, Buena Vista Social Club, que foi, inclusive, indicado ao Oscar. A música cubana virou mania. Bailes que tocavam salsa e sucessos como Chan Chan e Dos Gardenias se multiplicavam. Mas a mania - que normalmente dura um verão - não passou.

Anos depois, o time de virtuosos (que já tinha jogadores de idade bem avançada) perdeu alguns nomes, como Compay Segundo, Rubén González e Ibrahim Ferrer. Mesmo assim, Cuba ainda respira melodia e exporta músicos. "O ensino de música em Cuba é um exemplo para todo o mundo. Anualmente, graduam-se músicos em algumas especialidades. Eles têm uma preparação muito grande; alguns desses músicos se interessam por cultivar a música popular, a música tradicional cubana. Outros fazem jazz, outros fazem música sinfônica. Mas a marca do Buena Vista, que corre o mundo, está em todos eles", garante o percussionista. O próprio Amadito, assim com os demais músicos do Buena Vista, passam o ano fazendo turnê para divulgar a música cubana. Desde 1996, ele esteve no Brasil outras cinco vezes. Tocou com Leila Pinheiro, Monteserrat, Marina de La Riva. "Minha relação com o Brasil sempre foi muito bonita".

A filha de Amadito, Idania Valdés, que participou do álbum de Omara Portuondo e agora é cantora da orquestra Buena Vista, também vem ao Brasil. Na época da primeira gravação do Buena Vista, era uma estudante. Mas, como outros músicos jovens, foi beneficiada pelo ambiente criado a partir do êxito do projeto. Já esteve no Brasil outra vez, acompanhando Ibrahim Ferrer. Em Olinda, pretende fazer uma homenagem ao mestre cantando uma versão de Dos Gardenias.

A cubana também adora a música brasileira. "A minha cantora preferida é Elis Regina, mas admiro também Marisa Monte, Céu, Maria Rita, Carlinhos Brown, Leila Pinheiro". Nesta nova visita ao Brasil (eles fazem show também em São Paulo e Salvador), espera conhecer a música pernambucana. Quem sabe o primeiro disco solo da cantora não tem uma pitada nordestina? Até agora, a pretensão é atualizar as influências que recebeu, misturando a música tradicional cubana ao jazz, bossa-nova e música eletrônica.

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