quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Quem sabe um dia o Brasil vai mudar

12/08/09 - O Povo Online

Hoje o campeão mundial dos 50m livre e 100m livre Cesar Cielo e toda a delegação do Brasil que foi ao Mundial de Natação estiveram em Brasília para encontrar o presidente Lula. A CBDA tem patrocínio estatal, dos Correios, e a visita é para dar um reforço (desnecessário por sinal) à popularidade do mandatário da nação. Mas e se Cesar Cielo não fosse à cerimônia? E se o garoto de 22 anos que chegou ao topo do esporte sem ajuda pública simplesmente dissesse “não, eu não vou compactuar com isso”?.

Enquanto o Congresso chafurda na lama com casos absurdos de corrupção vindo à tona todos os dias, o Brasil não tem sequer um solitário cidadão protestando. Já na França, as pessoas foram às ruas hoje reclamar da prisão domiciliar da ativista Aung San Suu Kyi, de Mianmar. A população brasileira é claramente desengajada e desmobilizada e este não é o espaço para discutirmos como chegamos nesse ponto, mas e se Cielo tivesse se recusado a encontrar Lula? E se ele tivesse dito que não iria apoiar um cidadão que apoia um outro cidadão coberto de denúncias para ter apoio nas eleições de 2010? Será que o movimento de Cielo inspiraria outros?

Não é o caso de jogar um peso nas costas do nadador. Ronaldo, por exemplo, poderia ter feito o mesmo quando venceu a Copa do Brasil. Quem sabe Anderson Varejão, Kaká, Dunga, Parreira, Gustavo Kuerten, Felipe Massa, Rubens Barrichello, e Tiago Camilo pudessem fazer o mesmo. Quem sabe uma atitude dessas inspiraria a Ordem dos Advogados do Brasil a voltar à vida pública. Quem sabe a OAB inspiraria os bancários, os metalúrgicos, os economistas e os jornalistas. Quem sabe Chico Buarque, aquele que cantou a luta contra a ditadura, poderia cantar a luta pela moralização, pela ética. Quem sabe Chico inspiraria Maria Rita, que inspiraria o Sepultura, que inspiraria Cláudia Leitte, que inspiraria Zezé di Camargo e Luciano. Quem sabe Selton Mello, Rodrigo Santoro, Tony Ramos e Wagner Moura também começariam a se manifestar.

Quem sabe o Brasil poderia dar uma guinada em sua história se os famosos mostrassem que estão de saco cheio dos sorrisos sarcásticos dos senadores, dos conchavos, das negociatas, da cara-de-pau, do mensalão, dos atos secretos, dos dossiês, das verbas indenizatórias, dos funcionários fantasmas, do caixa 2, dos sanguessugas, das netas beneficiadas. E, principalmente, se fizessem algo prático, nas ruas e não apenas na internet, para mudar essa situação. Quem sabe os esportistas, cantores, atores e escritores inspirariam toda a sociedade a querer viver em um país melhor. Hoje, a senadora Marina Silva, que pode ser candidata à Presidência, disse sentir a necessidade “de haver portadores de utopia” no Brasil. Ela acertou em cheio. Esse “levante de personalidades” é uma clara utopia, ingênua até, de quem queria viver em uma sociedade diferente e não sabe mais onde procurar esperança. Mas se sonhar não custa mesmo nada, não há problema em continuar torcendo para que as coisas mudem.

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