sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Quando a verdade está à flor da pele

30/01/09 - Jornal de Notícias

"Sou" é o disco que marca a estreia de Marcelo Camelo (da banda Los Hermanos) nos trabalhos a solo. Um álbum em que uma dupla leitura de título (de pernas para o ar "Sou" é "Nós") inspira composições originais.

O disco acaba por reflectir a intenção clara de expressar a pluralidade de um artista criativo para quem o pulsar da música é semelhante às batidas do coração: umas vezes quase em êxtase, outras num retiro forçado para a solidão.

Em quase uma hora de disco desenhado em 14 canções, o brasileiro joga no campo das emoções. Por isso, a verdade surge desprovida de máscaras e fica à flor da pele, com o violão a dar mote ao intimismo de "Passeando" ou "Janta".

A melhor virtude de "Sou" é que é um álbum que não tem intenção de seguir fórmulas de êxito instantâneo, acabando por revelar um artista/autor que desenha cenários idílicos, alternando palavras simples com composições originais. "Sou" é como se fosse, por isso, uma película cinematográfica que goza da paisagem solar do Rio de Janeiro, onde "Copacabana", a fazer lembrar os míticos enredos de Carnaval, depressa se transforma em hino. Mas há também o intimismo do instrumental "Saudade", uma dança engenhosa entre os dedos de Clara Sverner e o piano. Já ao ouvir "Santa chuva" a mente viaja, de imediato, até ao primeiro disco luminoso de Maria Rita. No entanto, a música ganha agora um tom particular de confissão.

Acrescente-se o rasgo de Marcelo Camelo em fazer-se acompanhar por uma das músicas com a voz revelação de Mallu Magalhães e resumir em "Liberdade" todo o génio do artista: "Perceber aquilo que se tem de bom no viver é um dom".

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