sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Arquivo MR - 30 de Julho de 2002

Uma voz que não quer calar dá as caras
Maria Rita, filha de Elis, estréia no Rio em show do violonista Chico Pinheiro

By João Pimentel
Segundo Caderno - O Globo - Domingo, 30 de Julho de 2002

Subir num palco para uma estréia não é simples para nenhum artista, quanto mais para quem é filho de duas grandes estrelas da MPB.
Em sua primeira passagem profissional por um palco, há menos de dois meses, em São Paulo, Maria Rita Mariano, filha de Elis Regina e César Camargo Mariano, provou doses do céu e do inferno da vida de um artista.
Se por um lado foi acordada no dia seguinte por um telefonema do violonista Chico Pinheiro, amigo que a convidou para dar uma canja no já citado show, mostrado em uma crítica positiva de um jornal paulistano, por outro passou a ser a assediada e, pior, comparada com a mãe, para muitos, a maior cantora brasileira.
Maria Rita, que estréia esta semana no Rio ao lado de Pinheiro e da cantora Luciana Alves - de quinta-feira a sábado, no Mistura Fina - independentemente do talento, mostrou que da mãe herdou a personalidade forte.
Em primeiro lugar, não aceitou dar entrevista individualmente, e sim com seu parceiro, Chico Pinheiro, na realidade o dono do show. Depois, fez questão de dizer que, apesar de ser inevitável, "é uma ignorância sem tamanho! querer compará-la com a mãe:
-Entendo que ser filha de Elis é um gancho. Mas o que me chateia mais é o fato de estar cantando num show de um amigo, de ter uma companheira talentosa no palco, e as pessoas darem essa atenção extra a mim - reclama. - Eu sei que essa tensão existirá para sempre, mas há limite.
Maria Rita sempre fez questão de levar uma vida sem badalação. Aos 15 anos, foi morar em Nova York com o pai, tanto por contingência quanto por opção.
- A vida nos dá umas porradas e nem sempre estamos preparados. Eu era adolescente e, quando meu pai se mudou, achei que seria legal aprender outra língua. Foi uma outra vida necessária, já que sempre tive interesse intelectual. Sempre gostei de história, artes, literatura - conta. - Lá trabalhei duro para pagar minhas contas e pude amadurecer de uma forma diferente.
Maria Rita voltou de Nova York em novembro do ano passado, já com a idéia de torna-se cantora. Aos 24 anos, tendo cantado apenas em coro de colégios americanos, ela diz que segue apenas sua intuição:
- Muita gente diz que é tarde, que as pessoas começam a estudar cedo. Mas isso não me amedronta. No momento que resolvo seguir adiante, vou sem receio.

Violonista ressalta a interpretação da cantora

Depois de recusar alguns convites para cantar, Maria Rita não titubeou ao ser chamada pelo violonista Chico Pinheiro, músico e arranjador que, há dois anos, ficou com o segundo lugar no Prêmio Visa destinado aos compositores.
Pinheiro, que já acompanhara artistas como Chico César, Rosa Passos e Jair Rodrigues, encontrou a jovem cantora durante uma temporada que fez com César Camargo Mariano.
-Depois do show com César, a Lúcia, dona da casa onde tocamos, perguntou se eu toparia fazer quatro segundas-feiras em maio. Tinha muitas músicas guardadas que queria mostrar, então topei - lembra o violonista. - Juntei músicos talentosos da minha geração e convidei Maria Rita e Luciana Alves para emprestarem suas vozes.
Chico Pinheiro é só elogios:
- A pessoa em cima do palco reflete a personalidade emocional. Ela tem uma coisa bonita que as cantoras desta geração não têm: uma entrega grande, de alma - diz Pinheiro, lembrando-se de ter visto Maria Rita sair do palco chorando depois de uma canção - Ela tem uma interpretação forte, uma voz muito para fora. E canta com propriedade de quem sabe o que está dizendo.
Convidado num dos shows paulistanos - e outro filho de peixe, de Jair Rodrigues - Jair Oliveira admira a "postura de artista" da moça, a quem só foi ouvir no dia em que se juntou a Pinheiro e Maria Rita:
- Surpreendi-me com sua presença de palco. Foi uma surpresa muito agradável.
João Marcello Boscoli, meio-irmão de Maria Rita, produtor e presidente da gravadora Trama, faz questão de ressaltar a importância da cantora e da pessoa:
- Ela é a obra-prima da Elis Regina. Maria Rita é das cabeças e gargantas mais iluminadas que já conheci.
E da cabeça iluminada da jovem cantora vem a visão sobre o país que a mãe cantou de forma tão brilhante:
- Ouvia notícias de fora e ficava envergonhada e triste. A violência preocupa-me demais. É ruim nos sentirmos prisioneiros na nossa casa - diz. - Mesmo assim amo o Brasil e o Rio, onde sonho morar. É um lugar onde nunca sinto-me mal.

Fonte: Baú da Maria Rita

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