segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Blog 3 por 4

Apesar de não concordar de maneira alguma com o texto abaixo, tenho que postar, para cumprir com o objetivo do blog Sempre Maria Rita, que é trazer tudo o que é publicado sobre a MR.
Enfim, esse texto saiu no blog 3 por 4, do jornal Pioneiro, do Rio Grande do Sul, hoje, 01/12.

A Maria me irrita
Carlinhos Santos*

"Maria do Socorro, suas pernas torneadas, pela ladeira do morro..." O sambinha comunidade cantado para uma, não salva a outra Maria, a que me irrita. E explico por quê. Quando surgiu, ainda em shows para poucos, a filha de Elis Regina impressionava pois evocava a mãe em gestos e voz. Foi assim que ela arrebatou um público restrito, que lotou Mistura Fina, em sua primeira aparição no Rio, em abril de 2003. Eu estava lá, impressionado como todos. E o padrinho da guria, Milton Nascimento, ali numa das mesas, só balançava a cabeça. Tipo: essa menina fará jus à mãe que teve. Daí a moça lançou seu primeiro disco, com seu próprio nome, mas seguia sendo filha da mãe que teve. Foi quando ela veio pela primeira vez a Caxias, blindada, como se usa no jargão jornalístico. Tradução: não falaria com ninguém que quisesse apresentar ou falar mais do trabalho dela. O Segundo (disco) pegou refluxo de tanta superexposição. E não vendeu tanto, não foi aquilo tudo que a indústria fonográfica queria dela. Então ela saiu de São Paulo, foi morar no Rio, foi flagrada por paparazzi ao lado de Falcão, do Rappa, e de Leandro Sapucahy, um sambista-comunidade-estiloso da nova geração carioca. Uma aura perfeita para forjar a nova identidade da moça: agora carioca, cabrocha, descolada e despachada, "suas pernas torneadas, pela ladeira do morro...". E veio o CD Samba Meu, o DVD Samba Meu, e ela seguiu blindada como chegou em Caxias no sábado, duas semanas depois de uma intensiva peregrinação em busca de uma entrevista com ela. Comercialmente, segue vendendo bastante. Mas a moça de 31 anos tem ainda muita estrada para aprender o que o padrinho explicou sobre os tais "bailes da vida" e aquilo de "que todo o artista tem que ir aonde o povo está". Não apenas lotando ginásios com shows a R$ 80, mas quem sabe, abrindo a guarda para falar sobre o que é, afinal, a sua arte e pra que ela se lança no mundo. Enquanto não fizer isso, seguirá sendo só a filha da dita que, esta sim, soube ser artista de verdade. Pois, afinal, com ou sem Maria Rita, o samba nunca vai morrer.

* Carlinhos Santos, 44 anos, é jornalista e publica a coluna 3por4 diariamente no jornal Pioneiro.

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