sábado, 27 de dezembro de 2008

Ainda sem estar concluída, Cidade da Música é aberta

27/12/2008 - O Dia

Rio - Com uma apresentação da banda da Guarda Municipal, o descerramento de duas placas e a presença de 100 pessoas, entre autoridades, assessores e operários, a polêmica Cidade da Música foi enfim inaugurada ontem pelo prefeito Cesar Maia. A obra, que consumiu mais de R$ 518 milhões e ainda deve custar mais R$ 40 milhões, ainda não está concluída. Segundo o próprio Cesar, ainda falta terminar 5% das intervenções. Salas administrativas e de ensaio e praticamente todo o acabamento do complexo ainda não estão prontos. Entulho, material de construção e máquinas também se espalham por todo o entorno.

Cesar chorou quando ouviu a banda da GM atacar com ‘Garota de Ipanema’ e ‘Cidade Maravilhosa’. Depois, pegou a batuta do maestro Perasio Sterque e fingiu reger os músicos. Na Grande Sala Maestro José Siqueira, o prefeito repetiu o gesto enquanto a Orquestra Sinfônica Brasileira ensaiava para os concertos inaugurais de hoje e amanhã.

Em discurso de 15 minutos, Cesar defendeu a obra como um legado para as futuras gerações e sugeriu que a insistência na construção da Cidade da Música foi uma espécie de sacrifício político.

“Para mim, é muito mais que um momento de emoção. Eu me sinto como tendo cumprido uma obrigação. Não é difícil se gastar para as próximas eleições. Imagina, R$ 500 milhões divididos em Rio Comunidade, Rio Cidade, Favela-Bairro. Imaginem quantos votos a mais amealhariam para nossa candidata, Solange Amaral”, questionou o prefeito, referindo-se à concorrente do DEM à prefeitura.

“Essa é uma intervenção que sacrifica as próximas eleições. Mas é uma intervenção para as próximas gerações, que, com o tempo, vai ser vista na sua total dimensão”, concluiu Cesar.

A inauguração estava prevista para o dia 18, mas pendências em relação a itens de segurança fizeram com que o Departamento-Geral de Diversões Públicas dos Bombeiros vetasse a festa. As placas descerradas ontem, no entanto, traziam o dia 18 como ‘estréia’.

Apesar dos apelos de seu sucessor, Eduardo Paes, para não deixar despesas relativas ao complexo, o prefeito assegurou que há recursos em uma conta específica para garantir a conclusão das obras em dois meses.

MENINA DOS OLHOS DO PREFEITO QUE SE DESPEDE FOI FONTE DE DOR-DE-CABEÇA

Estouro de orçamentos e cronogramas, denúncias de superfaturamento, editais de licitação de concessões fracassados, uma CPI que não deu em nada na Câmara Municipal e bombardeios de críticas por todos os lados. Desde que começaram as obras, em setembro de 2003, a Cidade da Música foi alvo de polêmicas. A última delas adiou em oito dias a data de inauguração do complexo, depois que o Corpo de Bombeiros vetou a festa do dia 18 para 1.300 pessoas. As apresentações da OSB de hoje e amanhã foram limitadas a 900 convidados.

Além dos problemas estruturais, o complexo também é um dos ingredientes da disputa entre Cesar Maia e seu sucessor, Eduardo Paes. Enquanto o atual prefeito diz que há recursos para cobrir todos os gastos restantes, o próximo afirma que não é possível garantir verbas suficientes para concluir os trabalhos. Despesas de última hora autorizadas no início do mês por Cesar serviram de combustível para os atritos entre os dois.

Em outubro, depois de fracassar em conceder à iniciativa privada a administração do complexo, a prefeitura anunciou que assumiria a sua gestão. A decisão pôs fim a um polêmico processo de licitação, que durou seis meses e sofreu várias intervenções do Tribunal de Contas do Município. Entre os meses de julho e setembro, a construção da Cidade da Música foi o alvo preferencial de todos os candidatos à sucessão de Cesar — com exceção de sua candidata, Solange Amaral, que teve desempenho ruim nas urnas.

CESAR, O MAIS ASSEDIADO

Mais do que discursar, cumprimentar autoridades e aliados e dar entrevistas, o que mais tomou tempo do prefeito Cesar Maia foram as pausas para fotos com operários e funcionários da Comlurb que participaram da inauguração. Muitos traziam máquinas digitais ou fotografavam com seus aparelhos de telefone celular. “Tirei fotos de tudo para guardar de recordação esse momento tão importante. Isso é um sonho que se torna realidade. Cheguei aqui há pouco mais de dois meses e fico muito feliz de ver o trabalho concluído”, afirmou o gari Emerson dos Santos, 31 anos, há 11 na Comlurb.

As amigas e também funcionárias da Comlurb Jeniffer Coelho, 25 anos, e Fabiane Brum, 26, também estavam entre as que posavam para as fotos e que já faziam planos para quando as apresentações no complexo forem abertas ao público. “Adoro MPB e espero ver um show do Djavan aqui”, disse Jeniffer.

Para Fabiane, é fundamental que se organizem temporadas populares, com preços reduzidos, para que todos possam ir à Cidade da Música. “Popular não é só funk. A gente tem curiosidade de conhecer outros gêneros musicais, mas, muitas vezes, não tem como pagar”, defendeu Fabiane, fã de Maria Rita e Jorge Vercillo.

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