segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Gilberto Gil lança CD e DVD com os filhos Bem e José Gil

02/01/10 - Correio Braziliense

Gilberto Gil inaugurou em 1993 a série Acústico MTV com o Unnplugged. De lá para cá, o cantor e compositor baiano lançou vários discos - alguns, inclusive, ao vivo - quase todos acompanhado por sua banda e com sonoridade elétrica. Em 28 e 29 de setembro últimos, ele subiu ao palco do novo Teatro Bradesco, em São Paulo, para gravar o CD e o DVD Bandadois, com a participação dos filhos Bem e José Gil, e da cantora Maria Rita.

Sentado num banquinho, usando terno escuro e camisa azul marinho, dirigido pelo cineasta Andrucha Waddington, bem à vontade, como se estivesse no aconchego de seu estúdio na GG Produções, Gil encantou a plateia ao fazer desfilar um rico repertório de 23 de canções, no qual predominam as de sua autoria, às quais se juntam os clássicos Saudade da Bahia (Dorival Caymmi) e Chiclete com banana (Gordurinha e Almira Castilho).

O registro do que intitulou de Bandadois é para Gil "o resultado do trabalho que temos feito, eu e o Bem, de revisitarmos temas do meu repertório. Eu gosto muito da maneira como o Bem compreende os meus arranjos e a minha técnica. Tudo simples, tudo pessoal, tudo em casa, pai e filho". Caçula da família, José Gil surpreende o público nas músicas do bis, em que toca baixo.

Para abrir o álbum, o cantor selecionou a, ainda, atualíssima Esotérico, popularizada à época dos Doces Bárbaros, a trupe que formou juntamente com os companheiros e amigos Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, em 1966, para percorrer o Brasil com um espetáculo histórico - comemorativo dos 10 anos de carreira dos quatro - visto pelo brasiliense no Ginásio Nilson Nelson.

As belíssimas A linha e o linho (com a qual, poeticamente, fez analogia do casamento com a mulher Flora) e Superhomem - a canção vem em seguida. Das duas, uma, feita a pedido da filha Maria, que se casou no ano passado; Quatro coisas e Pronto pra preto, composta especialmente para o festival Back2Back, realizado no Rio de Janeiro, com a proposta de celebrar a África e sua cultura, são as inéditas. Elas fazem parte da produção recente do artista, que retomou o processo criativo logo depois de deixar o Ministério da Cultura do governo Lula.

No passeio por sua vasta obra, Gil tira de lá para recriá-las em versão acústica pérolas com a nobreza de Lamento sertanejo (parceria com Dominguinhos), Raça humana, Andar com fé (regravada pelo Skank) e Refavela, Tempo rei, A paz, Expresso 2222; e músicas importantes, mas menos conhecidas do grande público, entre as quais O rouxinol, Banda um, Babá Alapalá e La renaissance africaine - esta do Banda larga cordel, o álbum anterior.

Convidada especial, Maria Rita brilha ao lado de Gil na reinterpretação de Amor até o fim, samba da safra inicial do artista (década de 1960), nunca gravada por ele, mas que ganhou registro histórico de Elis Regina. No duo com o cantor, a new-sambista não consegue esconder a influência da mãe ao soltar a voz em versos como "Amor não tem que se acabar/ Eu quero e sei que vou ficar/ Até o fim eu vou te amar/ Até que a vida em mim resolva se apagar."

BandaDois/ Crítica ***
Simples e requintado

Rosualdo Rodrigues

Sofisticação e simplicidade convivem em harmonia no DVD Bandadois, de Gilberto Gil. O palco e o teatro como um todo são suntuosos, mas o cenário é composto basicamente por colunas enfumaçadas de luz. O figurino sóbrio denota certa formalidade, mas é de maneira despojada que Gil apresenta suas canções - em afinada parceria com o filho, Ben, que renova antigas canções, entre as quais se destaca a recriação de O rouxinol.

A direção de Andrucha Waddington procura fugir do burocrático registro de show, explorando em magnífica fotografia os tons de preto, cinza e branco em que é desenhado todo o espetáculo. E inclui imagens bonitas, como o início, quando Flora dá os últimos retoques no marido, no palco, antes de a cortina abrir. O apuro do diretor faz do DVD um produto visualmente requintado e tira a atenção de um detalhe que, embora insuficiente para embaçar o brilho do trabalho como um todo, faz diferença.

A voz desgastada, um pouco mais rouca e grave, faz com que Bandadois perca em comparação a outros momentos brilhantes de Gil em gravações acústicas, como o ótimo Gilberto Gil em concerto, de 1987. Em contrapartida, o artista se esmera nos novos arranjos e neles exibe seu virtuosismo de violonista, além de se mostrar por inteiro em um selecionado repertório, que atravessa diferentes fases de uma brilhante carreira.

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