quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ela ainda é uma garota

06/01/10 - Diário do Nordeste

Para alguns, ela representa o novo, um sopro de criatividade em um mercado caracterizado por mesmices e fórmulas prontas. Para outros, ela não passa de confete, uma artista beneficiada pela forma como a mídia a abraçou, graças, principalmente, a sua precocidade. De um modo ou de outro, Mallu Magalhães chama a atenção. Seja pela idade (ela está lançando seu segundo álbum com apenas 17 anos), seja pela versatilidade (ela canta, compõe e toca instrumentos), a paulista que foi descoberta na internet e, depois, acolhida pela indústria fonográfica, tem seu valor e é muito mais do que fogo de palha.

Isso não quer dizer que a artista não tenha falhas. Mas não há como negar que ela também é talentosa. Mallu Magalhães pode não ser, e realmente não é, a salvação da música popular brasileira, mas está longe de ser uma farsa com prazo de validade. Seu segundo trabalho, "Mallu Magalhães", é a prova de que a cantora ainda tem um longo percurso a frente, mas está no caminho certo.

Em seu primeiro disco, intitulado "Mallu", ela demonstrou talento para compor em inglês e português. A ingenuidade presente na voz doce e infantil e nas interpretações honestas chamou a atenção. E o fato dela ser novidade também ajudou a esconder pequenos defeitos. No segundo álbum, a novidade passou, e o frescor de outrora abre espaço para um disco mais profissional e melhor produzido.

O problema é que, ao mesmo tempo que essa produção mais elaborada, sob a responsabilidade de Kassin (produtor de nomes como Caetano Veloso, Los Hermanos e Vanessa da Mata), demonstra uma maior maturidade do trabalho, de outro, deixa claro uma série de limitações de Mallu, principalmente como cantora. Se como compositora e instrumentista, a garota dá conta do recado, enquanto intérprete ela deixa um pouco a desejar e não se liberta da aura de menina. Basicamente porque a voz ainda infantil não combina com a profundidade de algumas canções, nem suas interpretações espelham o sentimentos de determinadas letras. Isso fica mais evidente nas músicas cantadas em português.

Em parte por conta da própria inexperiência da artista - seja como cantora, seja pelo fato dela ainda ser nova demais para expressar certas dores - ou mesmo em decorrência da imagem meio abobalhada que ela mesmo ajudou a difundir pela mídia, algumas belas composições perdem fôlego na voz de Mallu, caso de "Te acho tão bonito" e "É você que tem". Estas, no entanto, se destacam pelos arranjos e melodias. A garota tenta compensar adotando alguns vícios das cantoras de MPB. O resultado é que certas canções soam como imitações de Maria Rita: "Versinho número um" é um exemplo. Algumas canções pecam por melodias sem ritmo e pela falta de brilho ("Nem fé nem santo"). Outras se aproveitam do ar de moleca de Mallu ("Shine yellow", "Compromisso" e "Bee on the grass").

Ainda assim, "Mallu Magalhães" é um trabalho mais coeso e enxuto do que o primeiro álbum da artista. As canções em inglês (sete ao todo) são claramente inspiradas pelo folk. As faixas em português abrem o leque de sonoridades da garota e trazem referências do rock ao samba, o que pode lhe render um público mais amplo.

No final das contas, "Mallu Magalhães" é um trabalho digno que dá continuidade à trajetória da cantora e começa a mostrar o que podemos esperar dela. Sobra talento a Mallu Magalhães, mas ainda lhe falta personalidade, e isso ela só conquistará com o tempo. A julgar pelos seus dois primeiros trabalhos, Mallu tem, sim, o que oferecer à MPB. Em tempos de entressafra, já é alguma coisa.

LANÇAMENTO
"Mallu Magalhães"
Mallu Magalhães
R$ 24,90
13 faixas
2009
SONY MUSIC

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