domingo, 10 de janeiro de 2010

Ed Motta retoma seu manual para festas com Piquenique

10/01/10 - Correio Braziliense

Ed Motta é um cara que coleciona LPs, só ouve música antiga, adora jazz, lança CD quase todo instrumental, grava disco de rock cantando em inglês e tocando tudo sozinho. Bom, é um homem de fases. Gosta de tanta coisa que passeia por onde bem entende. Coerência para quê? Quer mais é arriscar, no que faz muito bem. Um ano e meio depois do bom (e sombrio) Chapter 9, aqui está ele, de volta com seu manual prático para festas, bailes e afins, num disco solar chamado Piquenique.

Coproduzido por Silvera, o novo álbum traz 12 faixas que deixam claro que Ed Motta é bom em suas incursões pelo jazz, pelo rock e até pelos musicais norte-americanos (caso dos trabalhos anteriores), mas é melhor ainda quando passeia pelo soul e o funk. Em Piquenique, ele faz música para pista, casando sonoridades setentistas e modernas. E é neste segundo caso que entra a mão de Silvera, cantor e instrumentista que Ed só conhecia de passagens por São Paulo (os dois são da mesma gravadora, a Trama), até convidá-lo para trabalhar com ele.

“Queria uma pessoa que me ajudasse com as coisas modernas, porque só escuto coisa velha”, explica o cantor e compositor. “A ideia era que o disco tivesse algo atual e de bom gosto. E Silvera é um cara minucioso, cuidadoso. Programa muito bem bateria, lida bem com as novas tecnologias. Unimos isso com os meus arranjos, as minhas composições, a minha forma de trabalhar.”

Pop até o osso, Piquenique também marca a estreia de Edna Lopes como letrista. Casada com Ed Motta há 19 anos, ela, que é artista gráfica (foi a primeira mulher a escrever e a desenhar uma graphic novel no Brasil, Amana – Ao Deus dará, publicada pela Casa da Palavra), já fazia as capas dos discos e as ilustrações do site dele. Agora, assina todas as (desencanadas) letras do CD, à exceção de Nefertiti, escrita por Rita Lee (esta é a terceira da dupla, depois de Fora da lei e Colombina).

Ed conta que a parceria com a mulher começou por acaso. “Eu já tinha as músicas prontas. Um dia, depois de jantar, mostrei a ela as que ia passar para os letristas e, de brincadeira, disse: ‘E se a gente fizesse uma dessas?’”, lembra. “Aí fizemos A turma da pilantragem, música que tem uma coisa erótica dos anos 1960, bem ingênua. Começamos outras e me animei em fazer com ela o disco todo, a quatro mãos.”

Quando a letra de A turma da pilantragem ficou pronta, ele pensou logo num dueto. E pensou logo em Maria Rita para gravá-la. Coincidência ou não, foi o pai dela, César Camargo Mariano, o pianista que mais tocou nos discos do pessoal da chamada pilantragem (Nonato Buzar, Carlos Imperial, Wilson Simonal, etc.). “Que delícia de merengue/ Eu quero tocar/ Eu quero provar/ Me lambuzar”, cantam os dois, antes do coro pilantra “tira, tira, tira!”.

“Até cansar”
Marya Bravo, outra convidada do CD, faz os vocais da faixa-título, uma viagem com direito a patinete, bicicleta, bola de gude, fita cassete e tutti-frutti. “Enfim, achamos Paquetá/ Sim, vamos aproveitar/ Cochilar, pedalar, namorar/ Até cansar”, avisa ele, que já tinha chamado Marya, “uma cantora supertécnica, impecável”, para participar de Aystelum, o disco de 2005, o mais jazzístico dos 22 anos de carreira e o de melhor repercussão no exterior.

Desta vez, Ed Motta queria mesmo uma guinada pop, mais radical do que Poptical (2003). “Estava com saudade de fazer um álbum com que me comunicasse com um maior número de pessoas”, diz ele, que deve voltar às rádios com canções como Mensalidade, Pé na jaca e Minha vida toda com você. “O disco anterior, Chapter 9, teve uma recepção difícil dentro e fora do Brasil. Tinha uma influência meio rock, e isso não é o que as pessoas querem ouvir de mim.” Aqui, preferem o Ed pop, soul-funk. Fora do país, querem mais jazz, samba-jazz, instrumental.

“Gosto de tantas coisas... Como diz Zeca Pagodinho, deixo a vida me levar”, ele ri. “E deixo seguir naturalmente, para que soe verdadeiro.” Bom, pelo menos ele não pode reclamar de viver na mesmice.

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