domingo, 18 de outubro de 2009

Novos rumos pro mercado

17/10/09 - O Povo Online

Ainda em cartaz nos cinemas, o documentário Coração vagabundo segue Caetano Veloso na turnê do disco A foreign sound que passa por São Paulo, Nova York e as cidades japonesas de Osaka, Kyoto e Tóquio. Logo nos primeiros momentos, a câmera capta, por uma fresta de porta, o ídolo ainda nu, saindo de um banho. Cenas como essa, e outras menos íntimas, são cada vez mais comuns com artistas que veem suas vidas representadas em documentários que são exibidos na TV e no cinema.

Antes de Caetano, Maria Bethania, Paulinho da Viola, Noel e os Titãs, entre outros, já viram suas histórias contadas através de depoimentos próprios e de amigos, ou representadas por atores. Esses filmes procuram abordar os variados assuntos como os bastidores da gravação de um disco ou de uma turnê, a carreira, dramas pessoais, relação com as drogas ou movimentos musicais. E, como é comum, eles costumam ser lançados junto com um pacote de outro produtos o DVD, o making of, a trilha sonora, séries ou programas para a TV, tributos e biografias.

Esse é o caso, por exemplo, de dois recentes sucessos brasileiros que foram as cinebiografias da dupla Zezé di Camargo e Luciano e do cantor Cazuza que figuram entre os dez filmes mais vistos após a chamada retomada do cinema nacional. No caso dos sertanejos, além do DVD do filme 2 filhos de Francisco, que contou com as atuações de Márcio Kieling e Thiago Mendonça nos papeis principais, ao lado de Ângelo Antonio, Dira Paes, Paloma Duarte e José Dumont, também foi lançada a trilha sonora que conta com a participação de nomes, até de fora do universo sertanejo, como Caetano Veloso, Maria Bethania e Ney Matogrosso, além dos biografados, é claro. Da mesma forma com Cazuza & O tempo não pára, cuja trilha sonora mistura o próprio Cazuza com o ator Daniel Oliveira interpretando as canções do poeta.

No caso de Wilson Simonal, falecido em 25 de junho de 2000, após o lançamento do documentário Ninguém sabe o duro que eu dei, com direção de Claudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer, uma série de produtos com a marca do cantor passou a chegar às lojas. Dois discos, por exemplo, já foram somados à sua discografia. Um deles é a própria trilha sonora que reúne sucessos do cantor, como País tropical, Mamãe passou açúcar ni mim e Tributo a Martin Luther King. O outro chama-se Sorriso pra você e traz como atrativo algumas faixas raras e outras inéditas no Brasil. Também está sendo lançada a biografia Nem vem que não tem & A vida e o veneno de Wilson Simonal, escrita por Ricardo Alexandre. Por fim, até agora, um show tributo intitulado Baile do Simonal será lançado em CD e DVD em novembro, com a participação de vários cantores, como Fernanda Abreu, Ed Motta, Paralamas do Sucesso, Maria Rita e Caetano Veloso.

Para Firmino Holanda, professor de cinema da Universidade Federal do Ceará, a crescente produção de filmes sobre artistas da música está conectada com a crise da indústria fonográfica. ``Com a queda nas vendas dos CDs, é preciso diversificar o mercado. Esses documentários alimentam a cabeça do consumidor e reafirmam o valor de artistas, como Wilson Simonal e Arnaldo Baptista. Uma coisa é você ter um disco e conhecer algumas músicas. Quando você faz um documentário, você recebe um pacote com informações sobre aquele artista. É cultura e você se sente mais alimentado para encarar aquele artista. O público acaba se interessando por eles``. Quando comparado com o vídeoclipe, ele afirma que o filme tem a mesma intenção de divulgação, mas com maior intensidade. ``O filme é uma propaganda mais funda. É uma forma de se afirmar e de perdurar uma história. O clipe só vende durante um período.``

De fato, até artistas mais novos têm utilizado a linguagem de documentário nos seus últimos lançamentos. A cantora Ivete Sangalo, por exemplo, em seu último DVD, Pode entrar, foge do tradicional registro de um show e opta por filmar as gravações do disco homônimo no estúdio montado em sua própria casa. Marisa Monte também faz diferente em Infinito ao meu redor quando mistura canções com cenas do dia-a-dia. Para o documentarista Philipi Bandeira, filmes como esses utilizam recursos de documentário, muitas vezes, de forma muito fria, com a intenção de aumentar a sensação de realidade. ``É o caso, por exemplo, da câmera que treme durante a gravação. Nenhuma banda vai lançar sua imagem se isso não for muito bem pensado. E isso tudo é pensado``. Segundo ele, esse novo formato vem como uma alternativa ao esgotamento do vídeo tradicional de shows. ``Os brasileiros ainda consomem muita música. A tietagem e o voyeurismo alimentam o mercado. As pessoas se sentem próximas quando veem os artistas na intimidade``.

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